A Crença
Parte 3
O que temos está longe de ser o
ideal, não obstante, há quem tenha a sorte do acaso reunir as condições ideais.
Sentarmo-nos à espera dos milagres é desperdício de tempo. Por muito que nos
esforcemos, num mundo destes, nada de bom acontece aos acomodados. Estamos
sujeitos a doenças, morte e miséria. Isso sim é real, é o Deus da civilização
moderna. Nisso sim, vale a pena acreditar, porque a nossa fragilidade não
precisa de milagres. Precisamos apenas de conformação para aceitar as
injustiças de que somos alvo.
Parece que, mesmo trilhando a
miséria, nem por isso aparentamos estar mais tristes. Temos fé e esperança,
mesmo desconfiando que não vá haver um futuro confortável, por não nos
permitirem prepará-lo com antecedência. Afinal, o que é sobreviver comparado
com viver? Será esse o nosso desígnio? Sobreviver?
A história mostra-nos que há
ciclos de depressão e ciclos de recuperação. Deveremos nós basear a nossa
crença quanto ao futuro nas flutuações do passado? Talvez seja lógico,
normalmente há sempre recuperação depois das crises. A questão que talvez
desconsideremos é a duração dos ciclos. Devemos crer que vamos conseguir
recuperar após uma crise, mesmo que tal se dê à custa do sacrifício de alguns. Podemos
até viver o resto da nossa vida em crise, o futuro é sempre uma incógnita.
Devemos perguntar-nos se queremos
continuar a viver neste sistema cíclico, ou se conseguiremos vencer os vícios
de viver corruptamente. Nunca haveremos de gostar uns dos outros, somos
demasiado diferentes e temos demasiados distúrbios mentais, incluindo
mentais-coletivos. Esconde-se sempre a verdade, pois há muito a ganhar em manter
uma mentira ou certas crenças.
Acerca da religião só tenho uma
coisa a dizer: Meu Deus, por favor destrói a religião. Alguns de nós são seres
humanos e outros são apenas animais em desenvolvimento.
Quais as verdades que, pelo menos
a alguns de nós, ainda causam dúvidas? Cremos que o homem foi à lua. Temos
crença que existe Deus. Cremos que estamos sozinhos no universo. Cremos que não
existe a cura para a SIDA, mas se houvesse e não a divulgassem, seria apenas
porque as farmacêuticas nunca abdicariam de um negócio de biliões na venda de
medicamentos, que sustenta 43 milhões de indivíduos, entre os quais crianças a
quem se negaria a possibilidade de ter uma oportunidade justa de vida.
Quantas mentiras nos contam e
verdades ocultam? Sabemos que somos alvos de argumentos elaboradíssimos que nos
tentam convencer a acreditar em alguma coisa.
Só podemos ter crença em poder
continuar a usar a razão para distinguir o certo do errado.
É chegado o momento de começar a largar as
dúvidas e anseios, e assumir que estamos mais maduros. Já conseguimos ver
algumas coisas tais como elas são, e afinal até sabemos onde nos movemos. Entre
ajudar os outros e ajudar-nos a nós mesmos, continuamos a procurar o nosso
lugar no mundo.
Eduardo de Montaigne
Parte 1
Parte 2
(Teresa Freitas)
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