segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

A Crença
Parte 3

O que temos está longe de ser o ideal, não obstante, há quem tenha a sorte do acaso reunir as condições ideais. Sentarmo-nos à espera dos milagres é desperdício de tempo. Por muito que nos esforcemos, num mundo destes, nada de bom acontece aos acomodados. Estamos sujeitos a doenças, morte e miséria. Isso sim é real, é o Deus da civilização moderna. Nisso sim, vale a pena acreditar, porque a nossa fragilidade não precisa de milagres. Precisamos apenas de conformação para aceitar as injustiças de que somos alvo.

Parece que, mesmo trilhando a miséria, nem por isso aparentamos estar mais tristes. Temos fé e esperança, mesmo desconfiando que não vá haver um futuro confortável, por não nos permitirem prepará-lo com antecedência. Afinal, o que é sobreviver comparado com viver? Será esse o nosso desígnio? Sobreviver?

A história mostra-nos que há ciclos de depressão e ciclos de recuperação. Deveremos nós basear a nossa crença quanto ao futuro nas flutuações do passado? Talvez seja lógico, normalmente há sempre recuperação depois das crises. A questão que talvez desconsideremos é a duração dos ciclos. Devemos crer que vamos conseguir recuperar após uma crise, mesmo que tal se dê à custa do sacrifício de alguns. Podemos até viver o resto da nossa vida em crise, o futuro é sempre uma incógnita.
Devemos perguntar-nos se queremos continuar a viver neste sistema cíclico, ou se conseguiremos vencer os vícios de viver corruptamente. Nunca haveremos de gostar uns dos outros, somos demasiado diferentes e temos demasiados distúrbios mentais, incluindo mentais-coletivos. Esconde-se sempre a verdade, pois há muito a ganhar em manter uma mentira ou certas crenças.

Acerca da religião só tenho uma coisa a dizer: Meu Deus, por favor destrói a religião. Alguns de nós são seres humanos e outros são apenas animais em desenvolvimento.
Quais as verdades que, pelo menos a alguns de nós, ainda causam dúvidas? Cremos que o homem foi à lua. Temos crença que existe Deus. Cremos que estamos sozinhos no universo. Cremos que não existe a cura para a SIDA, mas se houvesse e não a divulgassem, seria apenas porque as farmacêuticas nunca abdicariam de um negócio de biliões na venda de medicamentos, que sustenta 43 milhões de indivíduos, entre os quais crianças a quem se negaria a possibilidade de ter uma oportunidade justa de vida.
Quantas mentiras nos contam e verdades ocultam? Sabemos que somos alvos de argumentos elaboradíssimos que nos tentam convencer a acreditar em alguma coisa.

Só podemos ter crença em poder continuar a usar a razão para distinguir o certo do errado.

 É chegado o momento de começar a largar as dúvidas e anseios, e assumir que estamos mais maduros. Já conseguimos ver algumas coisas tais como elas são, e afinal até sabemos onde nos movemos. Entre ajudar os outros e ajudar-nos a nós mesmos, continuamos a procurar o nosso lugar no mundo.

Eduardo de Montaigne
Parte 1
Parte 2


(Teresa Freitas)

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