quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne


Ética em tempos de crise
Parte 2

As vivências que experimentamos durante os períodos de crise (sejam estes de natureza social, económica, política, religiosa, cultural, entre outros subtipos) são apenas uma das múltiplas incógnitas na equação da moralidade e da ética. Torna-se imensamente difícil pensar eticamente antes de se satisfazerem as necessidades básicas, e enquanto existirem profundas injustiças sociais, a ideia de uma ética geral e universal parece impraticável.

Somos essencialmente animais e o nosso instinto de sobrevivência sobrepõe-se a qualquer código de conduta. As religiões foram, neste contexto, e desde sempre, o principal mecanismo de controlo social e o mais eficaz, pois a consequência do incumprimento acarretaria o castigo à nossa alma imortal. A moral, enquanto obrigação interior que comanda as nossas ações, é igualmente poderosa. A inquietude que nos assola quando desrespeitamos princípios morais é por demais incómoda para a consciência para que não nos sintamos culpados.

As leis do Direito não esgotam tudo o que é ético, podendo mesmo, dependendo do contexto, serem antiéticas. Na maioria das nossas vidas agimos mediante as nossas éticas individuais, às quais vamos chamar de moral, e geralmente pensamos que todos deveriam agir como nós. Indiscutivelmente, este modelo do agir pode gerar crises e choques profundos. 

Observamos os nossos líderes, diariamente, e sob a premissa de construir um futuro melhor para todos, a agir apenas em interesse próprio e de alguns grupos, a atropelarem sistemicamente classes inteiras da população e a adotarem índoles fascistas e ditatoriais. É aceitável que o país como um todo tenha prioridade sobre grupos ou pessoas particulares. Infelizmente, certos grupos são marginalizados para que outros possam singrar. Numa sociedade com estas características, torna-se difícil haver comportamentos universalmente éticos

Eduardo de Montaigne
Parte 1


(Rogério Reis)

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