quarta-feira, 11 de março de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

Ética em tempos de crise
Parte 4

Tentou-se desde sempre distinguir o bem do mal mas nunca ninguém concordou naquilo em que cada um desses conceitos consiste. O grande problema é existir uma multiplicidade de interpretações da mesma ideia. O discurso que emana das religiões não deveria nunca ser integrado no mesmo texto juntamente com o discurso que emana da razão. Por muito que tentemos sistematizar códigos de conduta nunca iremos ultrapassar a verdadeira prisão existencial, que é o egoísmo. Estamos tão habituados a viver a nossa estúpida realidade que nem imaginamos o que pode ser verdadeiramente compensador em termos existenciais.

O modo como vivemos as nossas vidas é profundamente inspirado nos exemplos que observamos à nossa volta. A ética tem que passar primordialmente por uma construção positiva e racional da sociedade. Nesse contexto, o que potencia então as crises? Serão as crises de valores que geram os outros tipos de crise ou vice-versa?
Se vivêssemos numa comunidade fechada, sem acesso ao mundo exterior, acorrentados a uma única realidade, efetuaríamos escolhas diferentes daquelas que fazemos num mundo globalizado. Somos seres com uma consciência global, comparativamente aos nossos antecedentes históricos. O que nos move então a fazer determinadas escolhas em detrimento de outras?

Somos essencialmente animais sociais, pois a solidão assusta o ser humano. Somos programados para evitar a solidão pois compreendemos que temos melhores hipóteses de sobrevivência em família e comunidade.

Talvez certas crises surjam em determinadas sociedades devido ao elevado grau de multiculturalidade e grandes desigualdades sociais, havendo grandes dificuldades na gestão de valores tão diversos. Nos tempos em que havia necessidade de povoar para sobreviver, as crises assumiam então dimensões diferentes. O choque cultural e religioso e as diferentes conceções de liberdade gerarão sempre conflitos. Todos nascem com potencialidades, todavia é a aculturação que nos determina fortemente enquanto seres sociais. Conseguirá contudo transformar-nos em seres éticos?

Immanuel Kant define um génio como aquele que tem a capacidade para atingir objetivos de forma independente e compreender conceitos que normalmente teriam de ser ensinados por outra pessoa. Este génio é um talento para produzir ideias que podem ser descritas como não imitativas. Todos os outros precisam de ser ensinados.

Podemos agir eticamente se exercermos a razão pura, o mesmo não é garantido se agirmos de acordo com os nossos valores culturais.

Eduardo de Montaigne
Parte 1
Parte 2
Parte 3


(Rógerio Reis)

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