Parte 4
Tentou-se desde sempre distinguir
o bem do mal mas nunca ninguém concordou naquilo em que cada um desses
conceitos consiste. O grande problema é existir uma multiplicidade de interpretações
da mesma ideia. O discurso que emana das religiões não deveria nunca ser
integrado no mesmo texto juntamente com o discurso que emana da razão. Por
muito que tentemos sistematizar códigos de conduta nunca iremos ultrapassar a
verdadeira prisão existencial, que é o egoísmo. Estamos tão habituados a viver
a nossa estúpida realidade que nem imaginamos o que pode ser verdadeiramente
compensador em termos existenciais.
O modo como vivemos as nossas
vidas é profundamente inspirado nos exemplos que observamos à nossa volta. A
ética tem que passar primordialmente por uma construção positiva e racional da
sociedade. Nesse contexto, o que potencia então as crises? Serão as crises de
valores que geram os outros tipos de crise ou vice-versa?
Se vivêssemos numa comunidade
fechada, sem acesso ao mundo exterior, acorrentados a uma única realidade,
efetuaríamos escolhas diferentes daquelas que fazemos num mundo globalizado.
Somos seres com uma consciência global, comparativamente aos nossos
antecedentes históricos. O que nos move então a fazer determinadas escolhas em
detrimento de outras?
Somos essencialmente animais
sociais, pois a solidão assusta o ser humano. Somos programados para evitar a
solidão pois compreendemos que temos melhores hipóteses de sobrevivência em
família e comunidade.
Talvez certas crises surjam em
determinadas sociedades devido ao elevado grau de multiculturalidade e grandes
desigualdades sociais, havendo grandes dificuldades na gestão de valores tão
diversos. Nos tempos em que havia necessidade de povoar para sobreviver, as
crises assumiam então dimensões diferentes. O choque cultural e religioso e as
diferentes conceções de liberdade gerarão sempre conflitos. Todos nascem com
potencialidades, todavia é a aculturação que nos determina fortemente enquanto
seres sociais. Conseguirá contudo transformar-nos em seres éticos?
Immanuel Kant define um génio
como aquele que tem a capacidade para atingir objetivos de forma independente e
compreender conceitos que normalmente teriam de ser ensinados por outra pessoa.
Este génio é um talento para produzir ideias que podem ser descritas como não imitativas.
Todos os outros precisam de ser ensinados.
Podemos agir eticamente se exercermos
a razão pura, o mesmo não é garantido se agirmos de acordo com os nossos
valores culturais.
Eduardo de Montaigne
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Parte 2
Parte 3
(Rógerio Reis)
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