domingo, 26 de julho de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

VII

Sentia que todas as pessoas eram visceralmente iguais. Uma desilusão.
Só tinha uma questão em mente e só essa teria que ser respondida. Todas as outras lhe pareciam inúteis. Talvez obter conhecimento o ajudasse a compreender o que teimava em escapar-lhe. Parecia-lhe tudo extremamente complexo e todos os outros aparentavam ser mais apaixonados pelo que faziam. Todavia talvez se sentissem apenas vazios e aquilo que faziam preenchia-lhes o tempo que eram obrigados a viver.

O desprezo pela arrogância alheia fazia com que fugisse do estigma que neles reconhecia e abominava. Escolheu a companhia dos que considerava criativos e simples e afastou-se dos obcecados intelectuais. Achava os primeiros genuínos e despretensiosos. Antagonizava os outros e todos aqueles que procuravam oprimir o valor intelectual alheio. Acreditava que a humildade aproximava as pessoas. A arrogância pseudointelectual dava-lhe vómitos. E eles eram tão vazios. Sabia, no entanto, que aquele não era um lugar de humildade, mas onde a ignorância e arrogância não encontram fronteiras de credo, cor ou estatuto. Pretensiosos que se achavam mais inteligentes que todos aqueles que eram tão imbecis quanto eles.

Não passava muito tempo a ressuscitar conhecimentos contidos em páginas bolorentas, nem sequer queria perder tempo com aquilo. Sentia-se um náufrago. Era como beber água salgada quando se anda à deriva no mar. Custava-lhe aceitar a ideia que estava a perder o seu valioso tempo. Mas se nem ali encontrara respostas, o que faria então? A única coisa que não o aborrecia e lhe dava algum estímulo era a ideia de psicanalisar todos aqueles ridículos e patéticos seres. Destruir-lhes as convicções fundadas em pensamentos que não lhes pertenciam. Era um inimigo natural daquela seita de vampiros do saber, receosos de qualquer contato com a luz. Habitantes da escuridão das mentes e arautos do conformismo escolástico.


Não respeitar esses pálidos seres foi o primeiro passo. Lentamente despia-se da moral e deixava a insanidade assumir o controlo. Sentia que naquele lugar apenas a diferença o reconfortava. E fez por ser diferente.


Eduardo de Montaigne part. Ipart. II, part. IIIpart IVpart V, part VI



(Marco Bekk)

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