domingo, 18 de outubro de 2015

Poderemos todos um dia recordar (com vergonha) que vivemos num tempo em que chamaram professores de candidatos

Estou ciente de que existem ainda muitos constrangimentos em matéria educativa para além da questão da Prova de professores (concursos e critérios injustos, reorganização curricular, legislação que abriu portas ao ensino privado, …). E também sei que ela não é a solução dos problemas que ainda atingem a “classe” docente, mas permitam-me fazer algumas considerações sobre o período negro da PACC e o seu efeito sobre aqueles que foram visados.

Durante estes anos, milhares de docentes pagaram com o seu emprego a sua dignidade. E colocaram as palavras nas suas acções. Sim, eu sei que para muitos isso não conta nada (foi o que me foi dito repetidamente por muitos a quem nem sequer perguntei). Entre o desprezo e a inacção de muitos “colegas” de muitos outros, durante este período de tempo houve insultos e ameaças de alguns contra aqueles acusados de incitar ao boicote à Prova e à sua não realização. Mas…

… muitos nunca deixaram de acreditar e nunca deixaram de estar à frente das escolas nos momentos em que tal era necessário. E apesar de merecerem todos os louvores, não é para estes que hoje escrevo esta crónica.

A Prova deu um passo atrás. E não graças a muitos que apelidei um dia de “pares”. Não, não existiu solidariedade entre “pares”. Se tivesse havido, a Prova nunca teria ido em frente. Muitos por medo, outros por agenda própria, permitiram tudo o que sucedeu. E ainda há aqueles que passaram de ovelhas para lobos e que agora passarão “inocentemente” de lobos para ovelhas, misturando-se entre o rebanho. Mas sabemos quem são e quais foram as reais motivações nesta matéria. 

O dia de sexta não representa apenas uma vitória moral daqueles que foram injustamente tratados pelo MEC e pelo seu ministro, ou pelos supostos “pares” (aqueles que aceitaram fazer a Prova e as vigilâncias e aqueles que levaram as ordens acima do que era pedido). É uma vitória moral daqueles que foram apelidados por muitos como maus profissionais, sendo expulsos dos concursos de professores e consequentemente da profissão docente. 

Um dia disseram-me que a “dignidade não coloca comida na mesa”. E hoje eu pergunto a todos os que foram coniventes com a implementação da Prova: agora que foi declarada inconstitucional, como é que se sentem? Quanto custou a vossa dignidade? Eu digo. Foi barata e custou a módica quantia de vinte euros. Este é o preço a pagar pelo silêncio.

A última sexta-feira não marca apenas mais uma derrota de Crato em toda a escala. Esta derrota terá que dividi-la também com aqueles que fizeram parte deste processo hediondo que manchou a imagem de todos os professores.

Espero agora um dia poder celebrar a morte da PACC (quando for retirada do ECD). Até lá, apenas posso celebrar o facto daqueles a quem lhes foi feito o "velório" antecipadamente poderem agora voltar aos concursos em plena posse das suas habilitações e, sobretudo, do seu bom nome. 



(Eduarda Mata Icaza)

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