Hoje que se fala de natalidade

Relembro a transmissão de 9 de Julho do programa Dias do Avesso da Isabel Stilwell e Eduardo Sá que, depois do "episódio dos iogurtes", nos presenteiam com mais uma pérola.

Esta "mania" de se atribuir um certo egoísmo às pessoas que não têm filhos, menosprezando de certa forma a situação actual do país e da própria realidade das pessoas (como o desemprego latente, a instabilidade laboral, a cultura de baixos salários ou a crescente emigração) não deixa de ser (mais uma vez) caricata. Por acaso, a Isabel Stilwell acha que esses factores não são decisivos no "controlo" entre ter filhos e não ter? E se as pessoas nunca tiveram sequer esse "controlo" para decidir?

"Atiramos tudo para a crise. É óbvio que a crise, é óbvio que o desemprego (...), que o facto de não se ter um contrato, estar a recibo verde e ter uma precariedade laboral (...). Mas pôr tudo à frente, (...) quando eu tiver casa, quando eu tiver carro, quando eu tiver emprego (...). E depois vem associada esta ideia de controlo (...). No dia em que quiserem engravidar (...), não está sob o controlo das pessoas." 

Ou seja, deveremos ter filhos antes de ter emprego e ter poder de sustentá-los? E se formos desempregados (sem quaisquer rendimentos), deveremos ter filhos na mesma ou somos apenas "egoístas" que usam o desemprego como pretexto?

(Bansky)