quarta-feira, 8 de abril de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

Das fraquezas aos fracassos
Parte 1

A nossa existência, independentemente das escolhas que façamos, é profundamente marcada pelas nossas paixões e pelas nossas dúvidas. Todos trilham porém percursos diferentes. O que nos distingue verdadeiramente é a nossa capacidade de nos relacionarmos com os outros e compreendermos o nosso papel no mundo.

Antes de adquirirmos a nossa identidade, temos inicialmente uma existência. Essa ideia garante a liberdade e a responsabilidade do homem, pois existimos sem que sejamos pré-definidos. Durante a nossa existência vamos experimentando novas vivências e redefinimos o próprio pensamento e modos de agir. Adquirimos novos conhecimentos e experiências, que são a matéria-prima que constrói a nossa própria essência e a caracteriza. Esta particularidade de ser é fruto da liberdade que possuímos. 

Ceder aos vícios e paixões como forma de adquirir essência é também tipicamente humano. Falhar, é igualmente humano. Tem sido no entanto a grande ferramenta que impulsiona a evolução. Se não falhássemos e tudo evoluísse desprovido de erro, nunca nos tornaríamos verdadeiramente humanos. Nunca saberíamos valorizar as nossas aprendizagens e tornar-nos-íamos autómatos emocionalmente limitados.

Fracassar pode originar dois tipos de comportamento:

Por um lado, podemos sentir-nos angustiados e desistir de tentar evoluir. Por outro, motiva-nos a superar as nossas próprias expectativas.

O que faz com que um ser humano reaja de uma forma ou de outra está dependente de múltiplos fatores: A nossa química cerebral, as nossas aprendizagens, os nossos valores, a necessidade premente de sucesso, o mero acaso.

Podemos enumerar múltiplas razões para justificar a adoção de posturas perante o fracasso, mas, de forma alguma, devemos desvalorizar o fracasso como sendo intrinsecamente negativo. O fracasso é sem dúvida um dos motores que impulsiona civilizações, é o que faz com que exista necessidade de evolução. Se tudo o que fazemos fosse perfeito, não teríamos chegado a ser a mesma espécie que reconhecemos hoje como humana.

O fracasso é frequentemente originado pelas nossas paixões, todavia, o sucesso também o é. Não são as nossas paixões que determinam a nossa evolução negativamente. Se essas paixões se constituem por vezes como fraquezas, é na sua superação que encontramos o sentido da palavra evolução.


Evoluir significa passar de um estado a outro. Viver assim implica o fracasso como parte fundamental da evolução. O que somos hoje não é mais que a soma de milhares de adaptações e evoluções. Se não houvesse necessidade de evolução, a felicidade seria divergente do conceito que dela temos agora.

Eduardo de Montaigne 


(Théo Gosselin)

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