terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Espaço do correspondente - Eduardo de Montaigne

Reflexão sobre a Criação
Parte 4

Se queremos companhia, sentir orgulho em ser pais de um génio, ou apenas porque a vida em casal é já insuportável a dois, trazer um filho ao mundo é quase sempre um ato de egoísmo, o que transforma o processo de geração numa antítese moral. Um filho que nasce por acidente, mas que é aceite legitimamente, traz mais valor ao ato de criação que o planeamento desenfreado de uma vida, cujo principal papel é o preenchimento da vida dos progenitores.

Como seres humanos responsáveis, devemos evitar situações indesejadas, para nossa proteção e proteção dos que estão para nascer. Se acreditarmos na biologia, uma rapariga de 14 anos tem tanta legitimidade em querer filhos como uma mulher de 21. Porque não aceitamos tão bem esse fato? Questões sociais e religiosas? Económicas? Incapacidade de educar quando ainda não se foi completamente educado? Terá a educação, papel mais importante que o instinto nesta matéria? Bem, por muitas que sejam as razões a favor ou contra, nunca nos devemos esquecer que em épocas em que a esperança média de vida era muito curta, a natureza fez com que amadurecêssemos cedo o suficiente para garantir a manutenção da espécie. Por outro lado, ao abraçarmos esta premissa, não estaremos nós a abrir caminho para justificar algumas formas de pedofilia nas sociedades contemporâneas?

 Em que nos apoiamos então para justificar o ato de criação? Conseguiremos responder a esta questão com apenas um motivo? E se assim for, que motivo é suficientemente forte para aceitar a criação como um processo contínuo? Se somos dotados de inteligência, não devemos refletir e considerar em que circunstância a geração é aceitável? Questiona-se demasiado em que circunstâncias o aborto é aceitável, mas escapa à discussão em que circunstâncias é a geração aceitável.

Tenho colocado algumas questões, nem sempre havendo uma resposta simples ou única. Na verdade, pretendo apensas dessacralizar a criação e dotá-la do papel que ela deve ter realmente:
A criação é um ato que deve existir apenas quando absolutamente necessário, não deve ser um ato de imitação nem de sobrecompensação. Deve ser uma resposta às condições que a natureza nos coloca ao longo da nossa evolução enquanto espécie. Chegada é a altura em que se deve racionalizar a criação e não apenas usá-la como uma forma de gratificação pessoal. O nascituro não deve ser um elemento de coesão do casal mas sim uma resposta racional a uma necessidade premente. Não deve ser um meio para mas sim um fim.

O amor é apenas uma resposta orgânica e social a uma necessidade biológica que nem sempre faz sentido.



Eduardo de Montaigne

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(Andi Galdi Vinko)

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