quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Espaço do correspondente - Eduardo de Montaigne

Reflexão sobre a Angústia
Parte 2

A nossa existência está comprometida pela própria dinâmica na evolução do nosso mundo físico. Estamos ameaçados no nosso próprio sistema solar. Ou desenvolvemos inteligência capaz de nos tirar deste planeta ou seremos incinerados, quando a nossa estrela se tornar uma gigante vermelha, dentro de aproximadamente 5.5 biliões de anos. É o tempo que nos resta para arranjar uma solução. Claro que podemos até nem ter tanto tempo. Com tanto caos nas nossas vidas, podemos sempre ser vítimas de extinção por qualquer outra razão.
Recusamo-nos a aceitar que a vida é um acaso que depende de um ténue equilíbrio de muitos fatores. Nunca teríamos existido tal como somos, ou ter existido de todo, se o planeta se encontrasse alguns milhares de quilómetros mais perto ou mais distante do sol. Viver no limiar da extinção faz-nos colocar muitas questões. Esta intuição é suficiente para darmos conta da nossa insignificância no plano universal. Será que algum dia chegaremos a ser uma civilização suficientemente avançada, tecnológica e existencialmente, para afirmarmos que controlamos o nosso destino enquanto espécie? Tenho as minhas dúvidas.
No plano puramente humano, queremos ser felizes e ter sucesso. Tentamos encontrar nos filhos o prolongamento da nossa luta para modificar a realidade. Todas as inseguranças que sentimos gritam-nos que o propósito de viver é angustiante. Não lutaria ou construiria o que quer que fosse, sabendo que tudo é efémero e fugaz.

Não contamos apenas o nosso tempo de vida, mas também o das gerações vindouras, para dar continuidade àquilo que começámos. Claro que, se vivêssemos todos angustiados simultaneamente, acabaríamos por nos extinguir face à desmotivação de lutar pelo efémero. Os momentos de prazer, por mais intensos que sejam, são apenas intervalos frente à infelicidade que é viver. A felicidade é, em muitos sentidos, apenas uma ilusão, restando-nos apenas a busca de meios para suspender a dor e o sofrimento. É a coisa mais vulgar nos desejos humanos…querer ser feliz.

Não ficaremos aqui eternamente, por essa razão, criamos a ideia que depois desta vida há algo mais. Lidar com a angústia desta maneira é uma forma de não perder a esperança na nossa própria natureza. O que marca a diferença numa pessoa altamente motivada a ser feliz, é a sua total ausência de compreensão que é inútil mudar seja o que for, porque o nosso destino não é algo que dependa apenas de nós.

Eduardo de Montaigne

Reflexão sobre a Angústia
Parte 1


(James Houston)

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