Ética em tempos de crise
Parte 1
É verdade, afinal a nossa
identidade muda realmente ao longo da vida. Somos sempre diferentes e a vida é
feita de etapas. O que pode ser mais importante que a construção de um ser
humano? E afinal, o que são todas as nossas vivências? Não serão todas elas
desenvolvidas apenas com o único preceito de construir a nossa moral? Não
acredito na maioria dos sucedâneos religiosos. Tenho, contudo, uma firme
postura ética. Na verdade, falar de seres humanos e não falar de moral é como
falar de água sem oxigénio.
A moral é um instrumento de
autorregulação que só faz sentido quando vivemos em grupo. Só o facto de termos
uma moral define-nos como seres sociais e determina-nos existencialmente. Se o
nosso desígnio fosse o isolamento, seríamos dotados apenas de mecanismos que
nos permitissem estabelecer contactos suficientes com o objetivo de procriação,
assim como os ursos. Porém não, somos seres morais, que ao refinar os nossos
princípios e valores acabamos por construir algo a que chamamos de ética.
A ética evolui naturalmente a par
de todos os outros desenvolvimentos na construção dos seres humanos. Durante
toda a história, o homem demonstrou ser capaz de comportamentos selvagens e
antissociais, logo, a necessidade de compreender de quais circunstâncias nasce
a moral. Desde cedo se tentou arranjar formas de regular os impulsos humanos,
construindo-se para o efeito conjuntos de normas cujo objetivo final seria
proteger a humanidade de si própria. Aceitamos facilmente a premissa de que em
tempos de crise os comportamentos modificam-se, pois as necessidades básicas
falam quase sempre mais alto que a própria moralidade.
Talvez a única crise que
conseguiremos efetivamente compreender seja exclusivamente a crise de valores.
Introduzo então aqui uma premissa: Para que a ética seja geral e universal, tem
que ser aceite globalmente, ter um carácter universalmente vinculativo e
apontar reais consequências. Assim sendo, talvez nem falássemos de crise. A
complexidade social contemporânea dificulta apontar causas e soluções concretas
e contextualizadas para diversos subtipos de crise, contudo, defender a
utilidade de uma ética geral e aplicável a todo e qualquer ser humano é sempre
pertinente, se bem que utópica. Introduzo então uma outra premissa: O uso da
razão é o elemento primordial e essencial, acima de qualquer cultura, religião
ou economia, na superação de qualquer tipo de crise e determinante nas
construções éticas globais.
Eduardo de Montaigne
Eduardo de Montaigne
(Sungwon)
Sem comentários:
Enviar um comentário