Das fraquezas aos fracassos
Parte 2
Existir, é um processo onde somos
condicionados pelas nossas fraquezas e virtudes, na contínua tentativa de
superação de obstáculos. Os fracassos são as atualizações existenciais. Existem
para consolidar a nossa evolução e permitem-nos ver o lado negativo que
pretendemos evitar ou superar. Só assim se torna possível transmitir às
gerações vindouras a fórmula de como ultrapassar certos problemas, e, pouco a
pouco, descobrir uma forma de exercer a existência com um propósito mais
abrangente.
Existir é um verbo com uma enorme
paleta de cores. Ser e estar é redutor face à possibilidade de existir. Em
última instância, tentamos chegar a um nível existencial que nos aproxime da
possibilidade de controlar efetivamente o espaço que nos rodeia, de modo a
garantir a sobrevivência da própria espécie no plano universal.
O facto de possuirmos naturezas e
inclinações distintas dos outros faz com que consigamos tecer uma teia de
experiências suficiente para gerar conhecimento e aculturação. Só a transmissão
dos conhecimentos gerados pela superação de fracassos pode garantir que existe
evolução enquanto indivíduos e enquanto espécie.
O facto de sermos altamente
especializados é o que nos distingue dos outros seres vivos. Existem espécies
que constroem uma teia de especialização onde se atribui a cada indivíduo um
papel específico, mas nada comparável ao grau de sofisticação do humano. Os
nossos talentos, apesar de nascermos já com algumas potencialidades, sofrem uma
aculturação e educação, de modo a podermos desempenhar papéis muito diferentes
na sociedade. É esta diversidade existencial, que congregada, nos torna a mais
complexa comunidade à face da terra.
A capacidade de pensar pode conduzir-nos à ideia
que só por isso existimos. Todavia, existir sem essência é das piores
frustrações que um ser humano pode viver. Nem sempre somos capazes de
distinguir o bem do mal e nem sempre somos capazes de escolher os melhores
caminhos a tomar. A única certeza que podemos ter é que o caminho para a
compreensão do nosso lugar no mundo é feito de espinhos e obstáculos. Significa
que o homem primeiramente surge no mundo com uma existência, autodescobre-se,
sofre uma aculturação, e só depois se define.
O indivíduo, inicialmente, tem apenas
a existência comprovada. Com o passar do tempo, incorpora a essência no seu
ser. Não existe uma essência pré-determinada. Desta forma, rejeita-se a ideia
de que há no ser humano uma alma imutável, desde os primórdios da existência
até à morte. Essa essência é adquirida através da existência. A nossa realidade
é definida por cada um de nós.
O homem é difícil de definir,
porque inicialmente não é nada. Só depois será, e será aquilo que de si próprio
fizer. Talvez muitos de nós tenham motivos para estimar a ideia de uma religião
ou da existência do divino ao leme das nossas vidas, no entanto, e com grande
pesar para mim, quem assim pensa, ou foi ludibriado ou nunca quis ter o
trabalho de refletir. A terceira alternativa… é ser idiota.
"O importante não é o que
fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós."
JEAN PAUL
SARTRE
Eduardo de Montaigne
Parte 1
(Marat Safin)
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