terça-feira, 14 de abril de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

Das fraquezas aos fracassos
Parte 2

Existir, é um processo onde somos condicionados pelas nossas fraquezas e virtudes, na contínua tentativa de superação de obstáculos. Os fracassos são as atualizações existenciais. Existem para consolidar a nossa evolução e permitem-nos ver o lado negativo que pretendemos evitar ou superar. Só assim se torna possível transmitir às gerações vindouras a fórmula de como ultrapassar certos problemas, e, pouco a pouco, descobrir uma forma de exercer a existência com um propósito mais abrangente.
Existir é um verbo com uma enorme paleta de cores. Ser e estar é redutor face à possibilidade de existir. Em última instância, tentamos chegar a um nível existencial que nos aproxime da possibilidade de controlar efetivamente o espaço que nos rodeia, de modo a garantir a sobrevivência da própria espécie no plano universal.

O facto de possuirmos naturezas e inclinações distintas dos outros faz com que consigamos tecer uma teia de experiências suficiente para gerar conhecimento e aculturação. Só a transmissão dos conhecimentos gerados pela superação de fracassos pode garantir que existe evolução enquanto indivíduos e enquanto espécie.
O facto de sermos altamente especializados é o que nos distingue dos outros seres vivos. Existem espécies que constroem uma teia de especialização onde se atribui a cada indivíduo um papel específico, mas nada comparável ao grau de sofisticação do humano. Os nossos talentos, apesar de nascermos já com algumas potencialidades, sofrem uma aculturação e educação, de modo a podermos desempenhar papéis muito diferentes na sociedade. É esta diversidade existencial, que congregada, nos torna a mais complexa comunidade à face da terra.

 A capacidade de pensar pode conduzir-nos à ideia que só por isso existimos. Todavia, existir sem essência é das piores frustrações que um ser humano pode viver. Nem sempre somos capazes de distinguir o bem do mal e nem sempre somos capazes de escolher os melhores caminhos a tomar. A única certeza que podemos ter é que o caminho para a compreensão do nosso lugar no mundo é feito de espinhos e obstáculos. Significa que o homem primeiramente surge no mundo com uma existência, autodescobre-se, sofre uma aculturação, e só depois se define.
O indivíduo, inicialmente, tem apenas a existência comprovada. Com o passar do tempo, incorpora a essência no seu ser. Não existe uma essência pré-determinada. Desta forma, rejeita-se a ideia de que há no ser humano uma alma imutável, desde os primórdios da existência até à morte. Essa essência é adquirida através da existência. A nossa realidade é definida por cada um de nós.

O homem é difícil de definir, porque inicialmente não é nada. Só depois será, e será aquilo que de si próprio fizer. Talvez muitos de nós tenham motivos para estimar a ideia de uma religião ou da existência do divino ao leme das nossas vidas, no entanto, e com grande pesar para mim, quem assim pensa, ou foi ludibriado ou nunca quis ter o trabalho de refletir. A terceira alternativa… é ser idiota.

"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós.

JEAN PAUL SARTRE


Eduardo de Montaigne
Parte 1


(Marat Safin)

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