sexta-feira, 15 de maio de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

QI vs QE - Programas de aprendizagem social e emocional

No seu livro de 1996, Inteligência Emocional, Daniel Goleman sugeriu que o QE (Quociente de Inteligência Emocional) poderia ser até mais importante que o QI. Porquê? Alguns psicólogos acreditam que as quantificações padrão da inteligência são demasiado limitadas e não abarcam toda a extensão da inteligência humana. Ao invés, sugerem que, a capacidade de compreender e expressar emoções pode desempenhar um igual ou mais importante papel na forma como as pessoas atravessam as suas vidas.

Qual a diferença então entre QI e QE?

QI é um número que deriva de um teste de inteligência estandardizado. Nos testes de QI originais, os resultados eram calculados dividindo-se a idade mental dos indivíduos pela sua idade cronológica, e, posteriormente, multiplicando esse número por 100. Uma criança com a idade mental de 15, e uma idade cronológica de 10, teria um QI de 150. Hoje em dia, os resultados são calculados, na maioria dos testes, comparando o resultado do teste por oposição aos resultados de outras pessoas do mesmo grupo etário.
Por outro lado, QE é uma medida do nível de inteligência emocional de alguém. A capacidade que a pessoa tem em percecionar, controlar, avaliar e expressar emoções. Investigadores como John Mayer e Peter Salovey, a par de escritores como Daniel Goleman, ajudaram a trazer luz à inteligência emocional, tornando-a um tópico quente, em áreas que vão desde a gestão empresarial até à educação.
Desde os anos 90 que a inteligência emocional passou de algo obscuro à popularidade. Já é possível encontrarem-se brinquedos cujos fabricantes alegam que estimulam a inteligência emocional da criança e programas que reivindicam ensinar competências relativas à inteligência emocional. Nos EUA, existem inclusivamente escolas que apresentam currículos de aprendizagem social e emocional.

Qual o mais importante então?

Em dado momento, o QI era visto como a determinante primária de sucesso. Assumia-se que as pessoas com alto QI estavam destinadas a vidas de conquistas e realizações. Muitos Investigadores têm vindo a debater se a inteligência é produto dos genes ou produto ambiental. Alguns críticos começaram a perceber que a alta inteligência não era garantia suficiente de sucesso na vida, como também era um conceito demasiado redutor para incorporar toda a gama de conhecimentos e habilidades humanas.
O QI continua a ser um importante elemento de sucesso, nomeadamente no que diz respeito a sucesso académico. Pessoas com QI alto têm habitualmente bons resultados na escola, ganham normalmente mais dinheiro e tendem a ser geralmente mais saudáveis. Todavia, alguns peritos reconhecem que não é o único determinante de sucesso na vida. É apenas parte de uma complexa teia de influências onde se inclui a inteligência emocional, entre outras.

O conceito de inteligência emocional tem tido um grande impacto num crescente número de áreas, incluindo o mundo dos negócios. Muitas empresas começaram a incorporar nas suas estruturas o treino e estimulação da inteligência emocional, começando a usar testes de QE como parte do processo de contratação. Investigadores têm vindo a descobrir que indivíduos com forte potencial de liderança tendem também a ter maior inteligência emocional, sugerindo que um alto QE é igualmente importante para líderes e gestores empresariais.

É evidente que aqui se levanta uma questão: Se é tão importante, pode ser ensinado ou reforçado? Olhando para os resultados dos programas de aprendizagem social e emocional, parece que sim. Cerca de 50% dos miúdos que aderiram a estes programas, como é exemplo no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, entre outros, tiveram melhor aproveitamento. Estes programas deram indicações de menores taxas de suspensões, menores taxas de faltas à escola, menor número de problemas disciplinares. Alguns psicólogos chegam a afirmar que o QI conta apenas de 10 a 25 % como determinante do sucesso, dependendo o resto dos outros fatores, onde se incorpora o QE.

Não deveria isto ser uma prioridade também para Portugal? Ao invés de sermos afrontados com um modelo educativo pautado pela obsessão em examinar e avaliar indiscriminadamente, onde se valoriza apenas a matemática e a língua mãe, com o único intuito de poupar e desinvestir na educação, deveríamos ter nos núcleos de decisão para a educação em Portugal, alguém cuja sensibilidade e inteligência emocional estivesse, ela mesma, desenvolvida. Infelizmente, os líderes educativos do nosso país, de onde se destaca o ministro Nuno Crato, são verdadeiros aleijões emocionais, cujo verdadeiro objetivo não é melhorar a educação, mas descartar do estado a responsabilidade de providenciar aos seus cidadãos o melhor caminho para desenvolver as suas crianças e jovens. Talvez não fosse má ideia olhar para os programas de aprendizagem emocional e social que já são implementados nesses países, e tentar criar um modelo educativo proporcional à nossa realidade, onde a estimulação das capacidades dos nossos alunos fosse além do saberem falar bem a língua e serem bons com números. Algo que parece ter ficado bem claro nas políticas educativas de um homem que foi escolhido para ministro da educação devido ao seu talento em efetuar escolhas atirando moedas ao ar.

Eduardo de Montaigne 


(Nirav Patel)

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