IV
Sabia que uma das maiores
fraquezas do ser humano era a programação inata para nos levar a sentir que
fazemos parte de algo maior. Defeito que tem vindo a ser explorado por pessoas
sem escrúpulos há já alguns milénios. Não acreditava no destino inexorável, mas
nas ações orientadas pela nossa natureza associadas às nossas aprendizagens.
Todavia, nem todas as aprendizagens seriam capazes de o demover em contrariar a
sua natureza. A natureza de um leão é matar, um búfalo refugia-se no grupo, uma
gazela foge, um camaleão camufla-se. Só os seres humanos possuem naturezas
diferentes e aglutinantes, o que nos torna animais especiais. Alguns de nós
matam, alguns refugiam-se nos outros, outros fogem, outros enterram a cabeça.
Por ter essa intuição, sempre desejou ardentemente conhecer qual a sua
verdadeira natureza, porém, tinha que deixar que as suas inclinações o
orientassem naturalmente, mesmo que por vezes tivesse que trair a sua razão.
Assim que chegou à encruzilhada
em que teve que escolher um rumo, fez uma escolha baseada em pressupostos
errados. Procurava sempre ser objetivo e assertivo, todavia perdera de vista a
lógica assim que decidira namorar o romantismo. Dera consigo a concordar com
Voltaire. O amor era mesmo, de todas as paixões, a mais forte. Afetava
simultaneamente a mente, o coração e os sentidos. Como ser feliz então, quando
tudo em nós se queda a respirar uma única emoção? Decidira que era um percurso
fadado à tragédia. Estava convencido que todo o amor era, eventualmente,
impossível.
(Lana Sutra)
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