VII
Sentia que todas as pessoas eram
visceralmente iguais. Uma desilusão.
Só tinha uma questão em mente e
só essa teria que ser respondida. Todas as outras lhe pareciam inúteis. Talvez
obter conhecimento o ajudasse a compreender o que teimava em escapar-lhe.
Parecia-lhe tudo extremamente complexo e todos os outros aparentavam ser mais
apaixonados pelo que faziam. Todavia talvez se sentissem apenas vazios e aquilo
que faziam preenchia-lhes o tempo que eram obrigados a viver.
O desprezo pela arrogância alheia
fazia com que fugisse do estigma que neles reconhecia e abominava. Escolheu a
companhia dos que considerava criativos e simples e afastou-se dos obcecados
intelectuais. Achava os primeiros genuínos e despretensiosos. Antagonizava os
outros e todos aqueles que procuravam oprimir o valor intelectual alheio.
Acreditava que a humildade aproximava as pessoas. A arrogância
pseudointelectual dava-lhe vómitos. E eles eram tão vazios. Sabia, no entanto,
que aquele não era um lugar de humildade, mas onde a ignorância e arrogância
não encontram fronteiras de credo, cor ou estatuto. Pretensiosos que se achavam
mais inteligentes que todos aqueles que eram tão imbecis quanto eles.
Não passava muito tempo a
ressuscitar conhecimentos contidos em páginas bolorentas, nem sequer queria
perder tempo com aquilo. Sentia-se um náufrago. Era como beber água salgada
quando se anda à deriva no mar. Custava-lhe aceitar a ideia que estava a perder
o seu valioso tempo. Mas se nem ali encontrara respostas, o que faria então? A única
coisa que não o aborrecia e lhe dava algum estímulo era a ideia de psicanalisar
todos aqueles ridículos e patéticos seres. Destruir-lhes as convicções fundadas
em pensamentos que não lhes pertenciam. Era um inimigo natural daquela seita de
vampiros do saber, receosos de qualquer contato com a luz. Habitantes da
escuridão das mentes e arautos do conformismo escolástico.
Não respeitar esses pálidos seres foi o
primeiro passo. Lentamente despia-se da moral e deixava a insanidade assumir o
controlo. Sentia que naquele lugar apenas a diferença o reconfortava. E fez por
ser diferente.
Eduardo de Montaigne part. I, part. II, part. III, part IV, part V, part VI
(Marco Bekk)
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