VIII
Assumiu a sua loucura e privava
com loucos como ele. Foi apresentado a uma vida de vícios que lhe preencheram o
fosso existencial e lhe acalmaram momentaneamente um certo ódio que sentia a si
mesmo. Afinal a sua vida era tão oca como a da maioria. As pessoas cuja
inteligência ambicionava compreender eram tão vazias como todas as que já tinha
conhecido.
Entregou-se ao esquecimento,
abandonou-se a amar meretrizes de sensações. Pouco fazia para justificar a sua
existência. Passava a vida a olhar para o vazio na tentativa de compreender
como tinha chegado ali. A sua imaginação, agora totalmente infetada,
pintava-lhe caminhos sem saída. Criava mentiras e ilusões para escapar,
agonizava quando se sentia existencialmente determinado. Era agora prisioneiro
de tudo aquilo que contrariava as suas crenças e sua lógica. O livre arbítrio,
afinal, podia ser revogado por coisas tão materiais. A dor para voltar a ser
livre era demasiado grande para abraçar. Era tão mais simples viver numa prisão
com grades de açúcar, ignorando tudo em que acreditamos.
Visitava à noite a sua
consciência numa tentativa de reconciliação. Estava mais vulnerável à noite.
Sentia os olhos gotejarem ódio, culpa e dor. Sentia-se enlouquecer. Por vezes
ouvia-se falar consigo mesmo…
- Olha para ti… procuras respostas nos que
desistiram. Tens que deixar a máscara cair do rosto. Vejo que não conheces o
futuro e sabes que os sonhos são feitos de terror. Encontra algo que te
mantenha agarrado à vida! Mas isso só não chega. Não precisas de roubar vidas e
torná-las tuas para esqueceres que não tens vida. Une-te a mim e aprende a
deixar tudo para trás. Crescerás finalmente. Farei com que a inteligência
infernalmente criada, finalmente, rume à luz. Já te disse quem és? Tu és eu mas
eu não sou tu. Agora és uma pálida desculpa de ser humano, cheio de dúvidas,
vícios e angústias. Sou o personagem que criaste para nunca te deixar esquecer
quem és realmente. O que jaz para trás e o que se levanta no futuro pouca
importância tem comparado com aquilo que cresce dentro de ti. Neste labirinto
de escolhas saberás na hora certa, não anseies, não receies.
Eduardo de Montaigne part. I, part. II, part. III, part. IV, part. V, part. VI, part. VII
(Ahn Sun Mi)
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