quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

VIII

Assumiu a sua loucura e privava com loucos como ele. Foi apresentado a uma vida de vícios que lhe preencheram o fosso existencial e lhe acalmaram momentaneamente um certo ódio que sentia a si mesmo. Afinal a sua vida era tão oca como a da maioria. As pessoas cuja inteligência ambicionava compreender eram tão vazias como todas as que já tinha conhecido.

Entregou-se ao esquecimento, abandonou-se a amar meretrizes de sensações. Pouco fazia para justificar a sua existência. Passava a vida a olhar para o vazio na tentativa de compreender como tinha chegado ali. A sua imaginação, agora totalmente infetada, pintava-lhe caminhos sem saída. Criava mentiras e ilusões para escapar, agonizava quando se sentia existencialmente determinado. Era agora prisioneiro de tudo aquilo que contrariava as suas crenças e sua lógica. O livre arbítrio, afinal, podia ser revogado por coisas tão materiais. A dor para voltar a ser livre era demasiado grande para abraçar. Era tão mais simples viver numa prisão com grades de açúcar, ignorando tudo em que acreditamos.

Visitava à noite a sua consciência numa tentativa de reconciliação. Estava mais vulnerável à noite. Sentia os olhos gotejarem ódio, culpa e dor. Sentia-se enlouquecer. Por vezes ouvia-se falar consigo mesmo…

 - Olha para ti… procuras respostas nos que desistiram. Tens que deixar a máscara cair do rosto. Vejo que não conheces o futuro e sabes que os sonhos são feitos de terror. Encontra algo que te mantenha agarrado à vida! Mas isso só não chega. Não precisas de roubar vidas e torná-las tuas para esqueceres que não tens vida. Une-te a mim e aprende a deixar tudo para trás. Crescerás finalmente. Farei com que a inteligência infernalmente criada, finalmente, rume à luz. Já te disse quem és? Tu és eu mas eu não sou tu. Agora és uma pálida desculpa de ser humano, cheio de dúvidas, vícios e angústias. Sou o personagem que criaste para nunca te deixar esquecer quem és realmente. O que jaz para trás e o que se levanta no futuro pouca importância tem comparado com aquilo que cresce dentro de ti. Neste labirinto de escolhas saberás na hora certa, não anseies, não receies.



Eduardo de Montaigne part. Ipart. II, part. IIIpart. IVpart. Vpart. VI, part. VII


(Ahn Sun Mi)

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