Hoje faço parte de uma (suposta)
minoria e estou feliz, muito.
Possivelmente, dada a minha
recusa, a minha repulsa e a minha desobediência a uma medida repressiva e de
pura extorsão que o MEC pretende implementar (a qual todos sabem ser injusta),
posso concluir que muito provavelmente nunca mais darei aulas no sistema
público de educação. Mesmo tendo consciência das consequências, tomei a minha
decisão: desobedecer.
Uma (suposta) maioria
inscreveu-se na prova, pelo que não culparei o sr. ministro que, ardilosamente como
os seus pares, atacou os professores. Não culparei o silêncio embaraçador dos reitores
e presidentes das universidades e politécnicos, não culparei quem veio a correr
para os jornais dar tiros nos pés e, sobretudo, não culparei os dirigentes
sindicais que demonstraram não terem a visão nem a capacidade de liderança para
mobilizar professores assustados.
Possivelmente culparei a
cobardia instalada, o medo irracional, a ignorância, a chantagem psicológica e todas
as outras formas emocionais e agressivas que compõem a complexa natureza
humana.
No jogo das ilusões, os (supostos)
37.000 candidatos à prova (ou posso sempre dar outros números que me venham à
cabeça, como 100.000? 200.000?) inscreveram-se porque tinham medo.
Pergunto o que diz isso de
nós (perdão, deles).
Gostaria de saber com que
cara é que os que optaram pela saída mais fácil (inscreverem-se para a
realização da prova) irão pedir aos professores dos quadros para fazerem greve
no dia 18 de Dezembro. E, sobretudo, com que cara irão comparecer nos
matadouros, perdão, escolas no dia da prova?
Gostaria também de dizer que
quem se inscreveu na prova na esperança de não ser excluído da docência é
porque ainda não percebeu que aderir à mesma é comprometer-se cegamente com
a sua própria exclusão. Apenas ainda não teve consciência disso.
À (suposta) minoria de
professores contratados que optaram por não entregar a sua dignidade e as suas
habilitações de mão beijada ao Governo, só posso dizer o que sinto, esperando
que sintam o mesmo que eu: estou de cabeça erguida. Não abdicarei da minha
liberdade em prol de um fascismo crescente na educação. Não sinto remorsos nem
culpa. Continuarei a lutar e irei para as manifestações que se seguem com toda
a tranquilidade e apelo para que outros assim o façam.
Não acreditem em tudo o que
vem nos média. Ainda existe muita gente com força para dizer NÃO. E quem se
inscreveu (essa suposta maioria) pode sempre voltar atrás e decidir não a realizar porque
simplesmente é o mais justo e nobre que uma pessoa pode fazer: lutar pela
liberdade.
Como diz Aristóteles em
Ética a Nicómana:
«Tanto a virtude como o vício estão em nosso poder. Com efeito, sempre
que está em nosso poder fazer, está-o também não fazer, e sempre que está em
nosso poder o não, está-o também o sim, de maneira que se está em nosso poder
agir quando é belo fazê-lo, estará em nosso poder agir quando é vergonhoso»
(Imagem: Ensino Artístico EVT)
Clap, clap, clap... Excelente ensaio.
ResponderEliminarExcelente! Parabéns pelo texto e pela sua frescura, sopro de dignidade, de firmeza nas convicções e assombro na clarividência das palavras!...
ResponderEliminarParabéns pelo texto.... tudo dito e bem dito!!!
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