sexta-feira, 29 de novembro de 2013

18h01min.

Hoje faço parte de uma (suposta) minoria e estou feliz, muito.

Às 18h01 de ontem tudo acabou. Afinal ainda não, somente dia 2 parece.

Possivelmente, dada a minha recusa, a minha repulsa e a minha desobediência a uma medida repressiva e de pura extorsão que o MEC pretende implementar (a qual todos sabem ser injusta), posso concluir que muito provavelmente nunca mais darei aulas no sistema público de educação. Mesmo tendo consciência das consequências, tomei a minha decisão: desobedecer.

Uma (suposta) maioria inscreveu-se na prova, pelo que não culparei o sr. ministro que, ardilosamente como os seus pares, atacou os professores. Não culparei o silêncio embaraçador dos reitores e presidentes das universidades e politécnicos, não culparei quem veio a correr para os jornais dar tiros nos pés e, sobretudo, não culparei os dirigentes sindicais que demonstraram não terem a visão nem a capacidade de liderança para mobilizar professores assustados.

Possivelmente culparei a cobardia instalada, o medo irracional, a ignorância, a chantagem psicológica e todas as outras formas emocionais e agressivas que compõem a complexa natureza humana.

No jogo das ilusões, os (supostos) 37.000 candidatos à prova (ou posso sempre dar outros números que me venham à cabeça, como 100.000? 200.000?) inscreveram-se porque tinham medo.

Pergunto o que diz isso de nós (perdão, deles).

Gostaria de saber com que cara é que os que optaram pela saída mais fácil (inscreverem-se para a realização da prova) irão pedir aos professores dos quadros para fazerem greve no dia 18 de Dezembro. E, sobretudo, com que cara irão comparecer nos matadouros, perdão, escolas no dia da prova?

Gostaria também de dizer que quem se inscreveu na prova na esperança de não ser excluído da docência é porque ainda não percebeu que aderir à mesma é comprometer-se cegamente com a sua própria exclusão. Apenas ainda não teve consciência disso.

À (suposta) minoria de professores contratados que optaram por não entregar a sua dignidade e as suas habilitações de mão beijada ao Governo, só posso dizer o que sinto, esperando que sintam o mesmo que eu: estou de cabeça erguida. Não abdicarei da minha liberdade em prol de um fascismo crescente na educação. Não sinto remorsos nem culpa. Continuarei a lutar e irei para as manifestações que se seguem com toda a tranquilidade e apelo para que outros assim o façam.

Não acreditem em tudo o que vem nos média. Ainda existe muita gente com força para dizer NÃO. E quem se inscreveu (essa suposta maioria) pode sempre voltar atrás e decidir não a realizar porque simplesmente é o mais justo e nobre que uma pessoa pode fazer: lutar pela liberdade.

Como diz Aristóteles em Ética a Nicómana:


«Tanto a virtude como o vício estão em nosso poder. Com efeito, sempre que está em nosso poder fazer, está-o também não fazer, e sempre que está em nosso poder o não, está-o também o sim, de maneira que se está em nosso poder agir quando é belo fazê-lo, estará em nosso poder agir quando é vergonhoso» 


(Imagem: Ensino Artístico EVT)

3 comentários:

  1. Clap, clap, clap... Excelente ensaio.

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  2. Excelente! Parabéns pelo texto e pela sua frescura, sopro de dignidade, de firmeza nas convicções e assombro na clarividência das palavras!...

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  3. Parabéns pelo texto.... tudo dito e bem dito!!!

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