Reflexão sobre a Angústia
Parte 4
A meu ver, devido à perfeição de toda criação
em sua total complexidade, deveria ser seguro dizer que a estrutura do universo
tem um esquema inteligente por trás de sua criação. Existem padrões que se
repetem em todos os aspetos da vida, de uma forma ou de outra. Esses padrões
são partes de uma estrutura e são as chaves para compreendermos melhor a nossa
consciência e o funcionamento dessa matriz complexa que é a existência. O
funcionamento desse universo de tempo e espaço vai muito além da lógica
convencional a que estamos habituados e que podemos ver com os nossos sentidos.
Sabemos no entanto, que a lacuna que ainda não conseguimos explicar sobre tudo
que existe faz com que preenchamos esse vazio com intuições que nem sempre
correspondem à verdade.
A angústia de viver, pelo menos
para aqueles que olham para os motivos da existência com seriedade, é uma prova
da nossa total ausência de certezas em relação ao lugar onde existimos e às
razões que nos levaram a existir.
Preocupamo-nos com bens materiais
porque, em última instância, é tudo que podemos disfrutar aqui.
Outra fonte de angústia aparenta ser a
fragilidade e pobreza da nossa vida interior. A incapacidade em sentirmo-nos
realizados apenas por reconhecer em nós um espírito e não só uma mente. A
grande diferença entre seres humanos é a capacidade que cada um tem de gerir as
suas emoções. Há quem defenda que as emoções são manipuláveis, admito que sim.
Não devemos contudo ser escravos das nossas programações emocionais e devemos
procurar ascender a elas. Muitas das vezes não conseguimos ver a floresta
porque existem demasiadas árvores a bloquear a visão. Assim são as emoções. No
entanto, um ser emocional sabe valorizar a angústia, pois a forma como lidamos
com ela é uma das coisas que nos demarca dos outros animais.
Poucos são os que decidem viver
para ajudar os outros. As pessoas que se encontram nos outros não sofrem tanto
a angústia porque exterminaram o egoísmo de dentro de si. O mais importante
deixa de ser o sucesso e a manutenção da felicidade própria a todo custo e
passa a ser o altruísmo. Nunca nos sentimos angustiados através da experiência
altruísta. Há sempre alguém que nos mostra que afinal há dramas bem mais
profundos que os nossos. Eliminar a angústia na resignação à nossa satisfação
pessoal em benefício de um desconhecido. É difícil ser-se inseguro quando nos
preocupamos com os outros e abandonamos o egoísmo. A minha felicidade pessoal
deveria passar pelo bem coletivo.
Emmanuel Levinas defendia que, se cada um se
responsabilizasse por um outro, haveria sempre alguém a responsabilizar-se por
nós. Não preciso de me preocupar comigo porque alguém o fará. Talvez esta seja
a melhor forma de eliminar a angústia. Viver na alteridade.
Quanto menos inteligente um homem
é, menos misteriosa lhe parece a existência. Já não questionamos porque achamos
que não vale o esforço. Alguns acham que a verdadeira compensação existencial é
a obtenção de estatutos. Aqueles que vivem felizes com a sua própria
interioridade, espiritual ou mental, e que não têm necessidade de exteriorizar
para os outros as suas conquistas, são menos passíveis de vir a viver
angustiados. O olhar de superioridade que alguém nos deita porque é
materialmente mais rico, torna-se ridículo quando comparado com a futilidade
que lhe reconhecemos e a compreensão de que estamos um passo à frente na evolução
humana, mesmo que decidamos não fazer nada para exteriorizar os nossos achados.
Arthur Schopenhauer defendia que
um génio é uma pessoa na qual o intelecto prevalece sobre a vontade com mais
intensidade que numa pessoa mediana. Esta predominância do intelecto sobre a
vontade permite ao génio criar trabalhos que são objeto de pura e
desinteressada contemplação. Os génios demonstram frequentemente
características de inadaptação e distanciamento das preocupações mundanas. Nas
palavras de Schopenhauer, “eles caem na lama enquanto fitam as estrelas”.
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