quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Espaço do correspondente - Eduardo de Montaigne

Reflexão sobre a Angústia
Parte 4

 A meu ver, devido à perfeição de toda criação em sua total complexidade, deveria ser seguro dizer que a estrutura do universo tem um esquema inteligente por trás de sua criação. Existem padrões que se repetem em todos os aspetos da vida, de uma forma ou de outra. Esses padrões são partes de uma estrutura e são as chaves para compreendermos melhor a nossa consciência e o funcionamento dessa matriz complexa que é a existência. O funcionamento desse universo de tempo e espaço vai muito além da lógica convencional a que estamos habituados e que podemos ver com os nossos sentidos. Sabemos no entanto, que a lacuna que ainda não conseguimos explicar sobre tudo que existe faz com que preenchamos esse vazio com intuições que nem sempre correspondem à verdade.

A angústia de viver, pelo menos para aqueles que olham para os motivos da existência com seriedade, é uma prova da nossa total ausência de certezas em relação ao lugar onde existimos e às razões que nos levaram a existir.
Preocupamo-nos com bens materiais porque, em última instância, é tudo que podemos disfrutar aqui.

 Outra fonte de angústia aparenta ser a fragilidade e pobreza da nossa vida interior. A incapacidade em sentirmo-nos realizados apenas por reconhecer em nós um espírito e não só uma mente. A grande diferença entre seres humanos é a capacidade que cada um tem de gerir as suas emoções. Há quem defenda que as emoções são manipuláveis, admito que sim. Não devemos contudo ser escravos das nossas programações emocionais e devemos procurar ascender a elas. Muitas das vezes não conseguimos ver a floresta porque existem demasiadas árvores a bloquear a visão. Assim são as emoções. No entanto, um ser emocional sabe valorizar a angústia, pois a forma como lidamos com ela é uma das coisas que nos demarca dos outros animais.

Poucos são os que decidem viver para ajudar os outros. As pessoas que se encontram nos outros não sofrem tanto a angústia porque exterminaram o egoísmo de dentro de si. O mais importante deixa de ser o sucesso e a manutenção da felicidade própria a todo custo e passa a ser o altruísmo. Nunca nos sentimos angustiados através da experiência altruísta. Há sempre alguém que nos mostra que afinal há dramas bem mais profundos que os nossos. Eliminar a angústia na resignação à nossa satisfação pessoal em benefício de um desconhecido. É difícil ser-se inseguro quando nos preocupamos com os outros e abandonamos o egoísmo. A minha felicidade pessoal deveria passar pelo bem coletivo.
 Emmanuel Levinas defendia que, se cada um se responsabilizasse por um outro, haveria sempre alguém a responsabilizar-se por nós. Não preciso de me preocupar comigo porque alguém o fará. Talvez esta seja a melhor forma de eliminar a angústia. Viver na alteridade.
Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência. Já não questionamos porque achamos que não vale o esforço. Alguns acham que a verdadeira compensação existencial é a obtenção de estatutos. Aqueles que vivem felizes com a sua própria interioridade, espiritual ou mental, e que não têm necessidade de exteriorizar para os outros as suas conquistas, são menos passíveis de vir a viver angustiados. O olhar de superioridade que alguém nos deita porque é materialmente mais rico, torna-se ridículo quando comparado com a futilidade que lhe reconhecemos e a compreensão de que estamos um passo à frente na evolução humana, mesmo que decidamos não fazer nada para exteriorizar os nossos achados.

Arthur Schopenhauer defendia que um génio é uma pessoa na qual o intelecto prevalece sobre a vontade com mais intensidade que numa pessoa mediana. Esta predominância do intelecto sobre a vontade permite ao génio criar trabalhos que são objeto de pura e desinteressada contemplação. Os génios demonstram frequentemente características de inadaptação e distanciamento das preocupações mundanas. Nas palavras de Schopenhauer, “eles caem na lama enquanto fitam as estrelas”.

Eduardo de Montaigne

Reflexão sobre a Angústia
Parte 1
Parte 2
Parte 3


(Tigran Tsitoghdzyan)

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