Desigualdade, o vício do sistema
Que a desigualdade de rendimentos
existente no mundo existe de forma abismal, já se sabe há muito tempo. Aliás,
eram apedrejados de demagogos, populistas, entre outras pedras atiradas pelos
políticos do sistema, comentadores “entendidos” no assunto, e pseudo-intelectuais,
todos aqueles que denunciavam essa situação e exigiam mudanças verdadeiramente
eficazes no paradigma económico. Porém, ao que parece, por muito que hajam
direitos humanos, convenções de justiça económica, entre outras reivindicações
que não passam de assinaturas em papel, a desigualdade continua a crescer. O
mais incrível é que é, precisamente, com a crise que aumenta o número de
multimilionários e o aumento de capital.
Segundo o relatório divulgado
pela Oxfam, as previsões apontam que em 2016, apenas 1% da população deterá
metade (não apenas 40%) de toda a riqueza existente no planeta. O que nos devia
levar a pensar se realmente é verdade a lógica neoliberal de que é preciso
criar riqueza (referindo-se ao setor empresarial, mais precisamente aos grandes
grupos económicos, às multinacionais e ao capital financeiro, nunca às pequenas
e médias empresas) para depois a redistribuir. Vivemos num mundo globalizado e
o sistema socioeconómico vigente é o capitalismo de mercado livre. A lógica e a
essência deste sistema é exatamente o contrário da redistribuição (justa e
dignificante) de riqueza. E o facto de vermos os 1% mais ricos a aumentarem a
sua riqueza e, portanto, consequentemente, aumentarem o fosso que separa os
mais ricos dos mais pobres (para haver riqueza extrema de um lado, tem que
haver pobreza extrema do outro), significa que quem está a levar a cabo a
“resolução” da crise está, na verdade, a querer salvar exatamente aquilo que
levou ao desencadeamento da crise, em primeiro lugar.
Muitos dirão que a desigualdade é
inevitável (para mim, argumento de arrogância extrema), às vezes com o típico
argumento conservador de que “sempre foi assim, sempre houve pobres”, portanto,
automaticamente, quase como se de uma fatalidade natural ou biológica se
tratasse, “sempre haverá pobres”. Outros dirão que “os pobres são pobres,
porque não se esforçam para não o serem” ignorando completamente as
circunstâncias sociais e económicas presentes na estrutura social que
determinam a posição das diferentes classes sociais. Mas, o argumento mais
obsceno, que muitas vezes é utilizado por pseudo-intelectuais, é precisamente o
da glorificação da desigualdade como uma condição essencial para a
competitividade e criatividade das pessoas. É como dizer que as sociedades são
melhores quando há mais desigualdade. Aconselho seriamente a essas
“personalidades” a lerem os inúmeros estudos na área de ciências sociais a
comprovarem exatamente o oposto, nomeadamente, o livro de Richard Wilkinson e
Kate Picket “O Espírito da Igualdade”, assim como visitarem o site www.equalitytrust.org.uk. Verão,
através destas obras, que atrás da cortina, não só um outro mundo melhor e mais
saudável existe quando há mais igualdade, como a sua realização não é, de todo
(como o discurso dominante quer fazer querer), inevitável.
Underground Soldier
(Gregos)
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