quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quem vai "pagar" o 942?


Com a notícia do veto de Marcelo (aqui) reacende-se novamente a questão da negociação e luta do 942 entre sindicatos e Governo. Já escrevi em sede própria, que a luta do 942 coloca sobretudo em segundo plano todas as outras problemáticas do ensino e as problemáticas que atingem os professores mais precários do sistema de ensino


"...Por muito justa que a luta seja, não quero acreditar que o descongelamento da carreira tenha sido o factor mais importante dos últimos anos para os docentes dos quadros e sindicatos que os representam. Foram estes mesmos docentes que tiveram como garantidos (e bem) os seus postos de trabalho nos tempos de austeridade, ao contrário de muitos docentes contratados que não tiveram sequer oportunidade de trabalhar nesses tempos, alguns dos quais acabaram por abandonar o ensino, ou até sair do país. 

Hoje, constato que, nas salas de professores, muito mais do que queixas sobre os salários ou congelamentos, recordo-me de ouvir queixas sobre a falta de democracia dentro das 4 paredes escolares e, sobretudo, da dificuldade em leccionar nas actuais condições (seja pela indisciplina registada, pelo número elevado de alunos por turma, pelo excesso de burocracia que "mina" o trabalho dos professores ou pelo facto de os horários de trabalho serem cada vez mais "pesados").

Daí o meu espanto ao ver assumido o descongelamento das carreiras como a grande bandeira da luta dos professores nos últimos anos. É, de facto, para muitos, mas não será certamente para todos. Portanto, é tempo de recordar quem está nos cargos decisórios que existem muitos outros problemas (também eles bem graves) para resolver num futuro próximo.

Pergunto: alguém está realmente preocupado com o "clima de guerrilha" que se está a criar em torno da educação? Alguém busca soluções para eventuais consequências que o descongelamento pode despoletar para os professores, em particular para os mais precários? 

Mudará o paradigma de todas as problemáticas do exercício atual da docência?

Ou melhor: 
- Acabará a crescente "burrocracia" na profissão?
- Haverá mais democracia na gestão das escolas? 
- Serão os horários mais ajustados para as funções e idade dos professores?
- Haverá concursos mais justos e transparentes, sem atropelamentos de qualquer espécie? 
- Serão os mapas de quadros de zona pedagógica reformulados e reduzidos?
- Haverá finalmente AEC devidamente integradas e reguladas? 
- Os descontos dos professores contratados passarão a ser bem processados na SS? 
- Haverá mais recursos nas escolas? 
- Travará a entrada de actores municipais na gestão dos agrupamentos? 
- Os professores sairão reforçados e mais respeitados?

Com certeza haverá muito mais a acrescentar, mas hoje em dia ser professor é muito difícil e exigente e a escola está tão desumanizada (devido à criação e funcionamento dos mega-agrupamentos) que tenho a certeza de que existirão muitas questões prementes para resolver.

Como disse uma vez Felisbela Lopes num artigo do JN: "o problema de fundo está ainda por discutir: a qualidade do ensino-aprendizagem e a valorização dos professores".

Tendo em conta, o problema que já em Janeiro próximo vai atingir os professores contratados com horários incompletos (aqui) e observando a disparidade de esforço colocado pelos sindicatos de professores entre defender a causa do 942 e a causa dos professores contratados urge  perguntar: quem vai "pagar" o 942?


(Arquillect)

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