A TRAMÓIA
Quando se equiparam os resultados da avaliação externa da escolas públicas com os das escolas privadas, confrontam-se sempre realidades distintas e incomparáveis.
A obstinação por este paralelo não é inocente, nem disfarça uma opção ideologicamente marcada, de desvalorização da Escola Pública, dos seus profissionais e outros recursos , e serve às mil maravilhas como justificação para a progressiva demissão do Estado das suas funções constitucionalmente consagradas.
As escolas privadas não são melhores nem piores do que as públicas, nem têm docentes mais competentes. Os alunos é que são diferentes. As escolas públicas são para todos. Têm o dever de integrar todos, de diferentes condições económicas e culturais, raças, etnias, credos e origens, de promover a igualdade de oportunidades no acesso ao saber. Sem esta preocupação social e democrática, as escolas privadas, obedecendo apenas à racionalidade empresarial, têm os alunos que querem, os bem comportados e de barriga cheia, os que podem pagar, sendo excluídos à partida os alunos provenientes dos meios socioeconómicos desfavorecidos. A escola privada não é, definitivamente, para pobres.
Gostaria de ver os resultados das escolas privadas se acolhessem os alunos que frequentam as escolas públicas, muitos originários de meios sociais desprotegidos, das comunidades imigrantes, de famílias disfuncionais, alunos que chegam à escola com fome e sem expetativas de promoção social, com graves problemas comportamentais e de aprendizagem. Para a escola privada estes não contam.
Sob a capa falaciosa da liberdade de escolha, intoxica-se a opinião pública com rankings imbecis, cortam-se verbas à Escola pública, humilham-se os professores, financiam-se as privadas com o dinheiro de todos, e criam-se as condições para a reprodução de mais desigualdade e injustiça social. O Estado degrada a sua Escola e reforça financeira e ideologicamente o ensino privado. Na escola do Estado, cada vez mais deteriorada , amontoam-se os deserdados , na escola privada exibem-se as classes favorecidas, com dinheiro dos contribuintes.
“ As famílias devem ter a liberdade de escolher onde colocam os filhos “, dizem as elites políticas, de pança repleta e prole em colégio de marca. Como se a liberdade de preferência de uma família que vive com o ordenado mínimo ou com o RSI fosse igual ao poder de um banqueiro ou de um administrador da EDP. Deixam a raposa entrar no galinheiro e esperam que a galinha sobreviva.
Esta deriva neoliberal ,que pauta os nossos tempos, insere-se numa lógica de destruição do Estado -Providência, com a entrega da Saúde , da Educação, dos serviços públicos, da Segurança Social aos grandes interesses financeiros.
Quem tem dinheiro paga. O Zé Povinho chucha no dedo.
Sublinhados e negritos da minha autoria
(Liam Brazer)
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