Criação
1ª Parte
A solidão isola e vulnerabiliza o
ser humano. Crescemos a observar que a sobrevivência tende a ter mais sucesso
em grupo. Será isto o que nos move a procriar e adotar comportamentos
considerados socialmente aceitáveis? A religião, não será ela apenas mais um
meio de reforçar a ideia de criar uma família? Claro que é bom estar inserido
num meio onde mais dois ou três indivíduos se preocupam genuinamente connosco.
A nossa família. Quando me refiro a esta, admito que em muitos casos este tipo
de laço não existe, muitas famílias não querem saber dos seus próprios
elementos. Refiro-me a casos “normais”, de modo a estabelecer uma tese sobre o
assunto.
Procriar, sim ou não? Bem, à
primeira vista sim, caso contrário a espécie acabaria por se extinguir. No
entanto, assim como qualquer cinema tem uma lotação máxima, o nosso planeta
também o tem.
Para que se viva bem, em
felicidade, e com tudo aquilo que um ser humano deve possuir ao longo da sua
vida, é necessário compreender quando refletir racionalmente no ato de procriar.
Difícil de saber, pois como todos têm os mesmos direitos, ninguém deve ser
impedido de procriar.
A seleção natural entra em choque
com a seleção cultural. Seres humanos com Trissomia 21, por exemplo, deverão ou
poderão ter filhos? Que seja do meu conhecimento, estes seres humanos têm os
mesmo direitos que qualquer um. No entanto, nenhum de nós encorajará esse ato.
Os indivíduos do sexo masculino com Trissomia 21 não podem ter filhos, ao
contrário dos indivíduos do sexo feminino, que possuem menstruação e podem
engravidar, o que se desaconselha, uma vez que terão dificuldades em cuidar da
criança adequadamente e, em 50% de hipóteses, o seu filho será também portador
de Trissomia 21. Problema moral que aqui aparece.
É então, aconselhável procriar apenas
quando as estatísticas forem favoráveis? Não será isto desumanizar o ato de
criação? Não vou sequer falar do aborto, pois isso levar-me-ia a tecer outras
considerações de difícil digestão. Não pretendo decifrar alguns dilemas
existenciais, serão sempre dilemas, independentemente da minha opinião ou da
opinião de qualquer um.
Sou defensor da ideia de que
existe demasiada gente no planeta. Partindo do princípio que a esperança média
de vida daqueles que já existem não se vai prolongar indefinidamente, suponho
que talvez fosse útil reformular certos padrões de comportamento face a este
assunto. Espero não ser mal interpretado e dar ideia que acredito em eugenia.
Afirmo tão só, que é inconsciente deixar o povoamento do planeta seguir o curso
natural, pois já percebemos que assim apenas comprometemos ainda mais o nosso
futuro como espécie.
Como todos têm direito a
procriar, também existe o problema da janela de viabilidade. Este manifesta-se
mais nas mulheres, deixando-as ansiosas e a pressionarem os seus companheiros
para terem um filho. Talvez seja injusto negar a qualquer casal, em qualquer
período histórico, a possibilidade de ter um filho. O problema é a existência
de casais que excedem em muito os valores aceitáveis. Nos tempos antigos, onde
havia necessidade de povoar para sobreviver, talvez isso fizesse sentido. Na
conjuntura económica mundial, talvez seja mais inteligente despovoar para
sobreviver.
Eduardo de Montaigne
(Andi Galdi Vinko)
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