segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Espaço do correspondente - Eduardo de Montaigne

Criação
1ª Parte

A solidão isola e vulnerabiliza o ser humano. Crescemos a observar que a sobrevivência tende a ter mais sucesso em grupo. Será isto o que nos move a procriar e adotar comportamentos considerados socialmente aceitáveis? A religião, não será ela apenas mais um meio de reforçar a ideia de criar uma família? Claro que é bom estar inserido num meio onde mais dois ou três indivíduos se preocupam genuinamente connosco. A nossa família. Quando me refiro a esta, admito que em muitos casos este tipo de laço não existe, muitas famílias não querem saber dos seus próprios elementos. Refiro-me a casos “normais”, de modo a estabelecer uma tese sobre o assunto.

Procriar, sim ou não? Bem, à primeira vista sim, caso contrário a espécie acabaria por se extinguir. No entanto, assim como qualquer cinema tem uma lotação máxima, o nosso planeta também o tem.
Para que se viva bem, em felicidade, e com tudo aquilo que um ser humano deve possuir ao longo da sua vida, é necessário compreender quando refletir racionalmente no ato de procriar. Difícil de saber, pois como todos têm os mesmos direitos, ninguém deve ser impedido de procriar.

A seleção natural entra em choque com a seleção cultural. Seres humanos com Trissomia 21, por exemplo, deverão ou poderão ter filhos? Que seja do meu conhecimento, estes seres humanos têm os mesmo direitos que qualquer um. No entanto, nenhum de nós encorajará esse ato. Os indivíduos do sexo masculino com Trissomia 21 não podem ter filhos, ao contrário dos indivíduos do sexo feminino, que possuem menstruação e podem engravidar, o que se desaconselha, uma vez que terão dificuldades em cuidar da criança adequadamente e, em 50% de hipóteses, o seu filho será também portador de Trissomia 21. Problema moral que aqui aparece.

É então, aconselhável procriar apenas quando as estatísticas forem favoráveis? Não será isto desumanizar o ato de criação? Não vou sequer falar do aborto, pois isso levar-me-ia a tecer outras considerações de difícil digestão. Não pretendo decifrar alguns dilemas existenciais, serão sempre dilemas, independentemente da minha opinião ou da opinião de qualquer um.

Sou defensor da ideia de que existe demasiada gente no planeta. Partindo do princípio que a esperança média de vida daqueles que já existem não se vai prolongar indefinidamente, suponho que talvez fosse útil reformular certos padrões de comportamento face a este assunto. Espero não ser mal interpretado e dar ideia que acredito em eugenia. Afirmo tão só, que é inconsciente deixar o povoamento do planeta seguir o curso natural, pois já percebemos que assim apenas comprometemos ainda mais o nosso futuro como espécie.

Como todos têm direito a procriar, também existe o problema da janela de viabilidade. Este manifesta-se mais nas mulheres, deixando-as ansiosas e a pressionarem os seus companheiros para terem um filho. Talvez seja injusto negar a qualquer casal, em qualquer período histórico, a possibilidade de ter um filho. O problema é a existência de casais que excedem em muito os valores aceitáveis. Nos tempos antigos, onde havia necessidade de povoar para sobreviver, talvez isso fizesse sentido. Na conjuntura económica mundial, talvez seja mais inteligente despovoar para sobreviver. 

Eduardo de Montaigne


(Andi Galdi Vinko)

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