segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Espaço do correspondente - Underground Soldier

Desenvolvimento e discurso dominante

Nos vários discursos políticos contemporâneos é muitas vezes consensual entre vários partidos, a necessidade de trazer o tema “crescimento económico” para o debate. O crescimento económico pode estar na agenda programática dos partidos (sobretudo, partidos centristas), mas não devemos abordar esta questão de uma forma superficial. É o caso dos sucessivos governantes e, também dos Presidentes da Republica (ainda há pouco, vi o nosso Presidente a falar novamente desta questão, aquando a sua viagem a Moçambique). Não vou discutir as formas distintas de obtenção de crescimento económico, mas sim abordar um outro conceito que se lhe está intrinsecamente relacionado. Na sociedade atual, a noção de desenvolvimento parece consensual em todas as camadas da sociedade. A comunicação social, por exemplo, não transmite nenhuma forma alternativa a deste tema à população, reforçando ainda mais um consenso forçado sobre o que deve, efetivamente, ser o desenvolvimento na sociedade contemporânea.

Na sociologia do desenvolvimento, sabe-se perfeitamente, que não existe (e ainda bem) esse consenso perante os diversos pontos de vista ideológicos. Para uns (e aqui apresento a versão da hegemonia neoliberal), desenvolvimento não passa de, pura e simplesmente, o dito crescimento económico, sendo medidos todos os padrões sociais através de taxas de escala quantitativos, como, por exemplo o PIB. Crescimento económico sem fim e sem limites, por muito que custe aos recursos do planeta, uma vez que, segundo esta versão, quanto mais crescimento económico uma sociedade tiver, melhor será para essa mesma sociedade; para outros, numa versão neo-institucional e, porventura, adotada pelos princípios da social-democracia, desenvolvimento é, não só um conceito limitado a crescimento económico, mas também estende-se a escalas de nível qualitativo, como a esperança média de vida, índice de analfabetismo, etc.; uma outra versão do conceito de desenvolvimento (no que mais me identifico) tem a ver, sobretudo, com critérios mais humanistas (para muitos, utopia), no sentido da erradicação da pobreza, justiça social plena, igualdade social e participação democrática.

Pela forma como olhamos a sociedade, pelos termos que nos referimos a várias zonas do globo (países de 3º mundo, etc.), temos a tendência de adotar a primeira versão referida de desenvolvimento como a mais consensual. Sabe-se que algumas zonas do globo que possuem mais recursos e, consequentemente mais riqueza, são precisamente as zonas mais pobres. Este paradoxo pode não fazer sentido para muitos, mas na verdade, é preciso ver que os países em vias de desenvolvimento encontram-se em tal situação, não devido às suas próprias circunstâncias, mas sim devido à imposição da subserviência (a vários níveis) da globalização neoliberal, o que nos devia fazer levantar o debate sobre como deveríamos levar a cabo a implementação de novos modelos de desenvolvimento na sociedade e não ficarmos constantemente a ingerir teorias pseudo-socioeconómicas que nos são apresentadas diariamente como as únicas possíveis e imaginárias para a sociedade.


Underground Soldier


(Bansky)

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