Desenvolvimento e discurso dominante
Nos vários discursos políticos
contemporâneos é muitas vezes consensual entre vários partidos, a necessidade
de trazer o tema “crescimento económico” para o debate. O crescimento económico
pode estar na agenda programática dos partidos (sobretudo, partidos
centristas), mas não devemos abordar esta questão de uma forma superficial. É o
caso dos sucessivos governantes e, também dos Presidentes da Republica (ainda
há pouco, vi o nosso Presidente a falar novamente desta questão, aquando a sua
viagem a Moçambique). Não vou discutir as formas distintas de obtenção de
crescimento económico, mas sim abordar um outro conceito que se lhe está
intrinsecamente relacionado. Na sociedade atual, a noção de desenvolvimento
parece consensual em todas as camadas da sociedade. A comunicação social, por
exemplo, não transmite nenhuma forma alternativa a deste tema à população,
reforçando ainda mais um consenso forçado sobre o que deve, efetivamente, ser o
desenvolvimento na sociedade contemporânea.
Na sociologia do desenvolvimento,
sabe-se perfeitamente, que não existe (e ainda bem) esse consenso perante os
diversos pontos de vista ideológicos. Para uns (e aqui apresento a versão da
hegemonia neoliberal), desenvolvimento não passa de, pura e simplesmente, o
dito crescimento económico, sendo medidos todos os padrões sociais através de
taxas de escala quantitativos, como, por exemplo o PIB. Crescimento económico
sem fim e sem limites, por muito que custe aos recursos do planeta, uma vez que,
segundo esta versão, quanto mais crescimento económico uma sociedade tiver,
melhor será para essa mesma sociedade; para outros, numa versão
neo-institucional e, porventura, adotada pelos princípios da social-democracia,
desenvolvimento é, não só um conceito limitado a crescimento económico, mas
também estende-se a escalas de nível qualitativo, como a esperança média de
vida, índice de analfabetismo, etc.; uma outra versão do conceito de
desenvolvimento (no que mais me identifico) tem a ver, sobretudo, com critérios
mais humanistas (para muitos, utopia), no sentido da erradicação da pobreza,
justiça social plena, igualdade social e participação democrática.
Pela forma como olhamos a
sociedade, pelos termos que nos referimos a várias zonas do globo (países de 3º
mundo, etc.), temos a tendência de adotar a primeira versão referida de
desenvolvimento como a mais consensual. Sabe-se que algumas zonas do globo que
possuem mais recursos e, consequentemente mais riqueza, são precisamente as
zonas mais pobres. Este paradoxo pode não fazer sentido para muitos, mas na
verdade, é preciso ver que os países em vias de desenvolvimento encontram-se em
tal situação, não devido às suas próprias circunstâncias, mas sim devido à
imposição da subserviência (a vários níveis) da globalização neoliberal, o que
nos devia fazer levantar o debate sobre como deveríamos levar a cabo a
implementação de novos modelos de desenvolvimento na sociedade e não ficarmos
constantemente a ingerir teorias pseudo-socioeconómicas que nos são apresentadas
diariamente como as únicas possíveis e imaginárias para a sociedade.
Underground Soldier
(Bansky)
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