quinta-feira, 6 de junho de 2019

A flexibilidade entra a ritmo galopante pelas escolas adentro...


...mesmo que se desconheça os efeitos da mesma a longo prazo. Noto cada vez com mais apreensão o regresso daquele sentimento do "salve-se quem puder" entre a classe docente que tem que abraçar obrigatoriamente a mudança, sob pena de vir a ser-se acusado de não se querer que a escola mude. De facto, muitos querem abraçar essa mudança mas a desconfiança é a de que esta venha a empurrar os docentes para um pântano e que possam vir a ser (mais uma vez) culpabilizados se tal mudança falhar. 

Isto foi vísivel num passado ainda traumático quando se implementaram reformas como:

- 2006/2007, através da implementação da ADD trazida pela mão de Maria de Lurdes Rodrigues, com os professores titulares e a reformulação da gestão das escolas; 

- durante o governo de Passos/Crato, onde o silêncio dos professores era insurdecedor, os lugares nas escolas desapareciam fruto das reformas impostas e até existiram professores ávidos e disponíveis para vigilância das Provas realizadas pelos seus próprios pares.

No presente, com a implementação da flexibilidade curricular, ainda de forma muito experimental mas igualmente muito obrigatória, os agrupamentos competem entre si, no intuito de ver quem consegue "esticar" mais a flexibilidade. Fica a sensação de que os docentes mais desatentos às mudanças não parecem estar despertos para as consequências e provável "carga de trabalhos" que pode estar à porta de cada pequena mudança que se debate de forma individual, agrupamento a agrupamento, pelo país fora, nomeadamente:

-nos horários dos professores;

- na organização do trabalho docente;

- no que daí pode advir relativamente às aprendizagens dos alunos.

Vejamos: agora o trabalho interdisciplinar (que já existia mas que surge com um novo e pomposo nome - DAC) tem que ser medido, qualificado e comprovado com grelhas e cruzinhas (consoante o "mood" do agrupamento), com subjacente avaliação e gradual progressão individual do discente (quanto mais, melhor). 

Acresce a isto o facto de que, em muitos agrupamentos, se esteja a discutir a possibilidade de o desempenho mínimo exigido (por disciplina) poder cair até 40%, isto é, esta ser a média que o aluno precise de obter para ter sucesso em determinada disciplina no final do ano. Existe, também, o receio de que se abra hipoteticamente a probabilidade para os directores reivindicarem novamente para si (como num passado recente aqui) o poder de seleccionar e recrutar docentes

Tudo isto a um ritmo galopante, sem sequer solucionar os grandes problemas existentes na escola pública e na profissão docente, podendo eventualmente agravar os que já existem, burocratizando  e asfixiando ainda mais o processo de ensino-aprendizagem sem reparar o mal que os currículos ainda hoje escondem. 

Creio que ninguém se oporá ao princípio subjacente à flexibilidade curricular. O problema reside, isso sim, na sua aplicabilidade e nos constragimentos sentidos hoje em dia nas escolas (sobretudo nos agrupamentos mais "papistas que o Papa"). As reformas levam tempo e é necessário que haja condições para que sejam implementadas (o que não parece ser o caso). Claro que isto são só teorias, mas não é preciso ser bruxo para perceber até onde nos levaram as autonomias no passado...

Auxiliar de memória: aqui


(Arquillect)





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