Estou ciente de que existem
ainda muitos constrangimentos em matéria educativa para além da questão da
Prova de professores (concursos e critérios injustos, reorganização curricular,
legislação que abriu portas ao ensino privado, …). E também sei que ela não é a
solução dos problemas que ainda atingem a “classe” docente, mas permitam-me fazer
algumas considerações sobre o período negro da PACC e o seu efeito sobre
aqueles que foram visados.
Durante estes anos, milhares
de docentes pagaram com o seu emprego a sua dignidade. E colocaram as palavras
nas suas acções. Sim, eu sei que para muitos isso não conta nada (foi o que me
foi dito repetidamente por muitos a quem nem sequer perguntei). Entre o
desprezo e a inacção de muitos “colegas” de muitos outros, durante
este período de tempo houve insultos e ameaças de alguns contra aqueles acusados
de incitar ao boicote à Prova e à sua não realização. Mas…
… muitos nunca deixaram de
acreditar e nunca deixaram de estar à frente das escolas nos momentos em que
tal era necessário. E apesar de merecerem todos os louvores, não é para estes
que hoje escrevo esta crónica.
A Prova deu um passo
atrás. E não graças a muitos que apelidei um dia de “pares”. Não, não existiu solidariedade
entre “pares”. Se tivesse havido, a Prova nunca teria ido em frente. Muitos por
medo, outros por agenda própria, permitiram tudo o que sucedeu. E ainda há
aqueles que passaram de ovelhas para lobos e que agora passarão “inocentemente”
de lobos para ovelhas, misturando-se entre o rebanho. Mas sabemos quem são e quais
foram as reais motivações nesta matéria.
O dia de sexta não representa
apenas uma vitória moral daqueles que foram injustamente tratados pelo MEC e
pelo seu ministro, ou pelos supostos “pares” (aqueles que aceitaram fazer a Prova
e as vigilâncias e aqueles que levaram as ordens acima do que era pedido). É uma vitória moral daqueles que foram apelidados por
muitos como maus profissionais, sendo expulsos dos concursos de professores e consequentemente da profissão docente.
Um dia disseram-me que a “dignidade
não coloca comida na mesa”. E hoje eu pergunto a todos os que foram coniventes
com a implementação da Prova: agora que foi declarada inconstitucional,
como é que se sentem? Quanto custou a vossa dignidade? Eu digo. Foi barata e
custou a módica quantia de vinte euros. Este é o
preço a pagar pelo silêncio.
A última sexta-feira não marca
apenas mais uma derrota de Crato em toda a escala. Esta derrota terá que
dividi-la também com aqueles que fizeram parte deste processo hediondo que
manchou a imagem de todos os professores.
Espero agora um dia poder celebrar a morte da PACC (quando for retirada do ECD). Até lá, apenas posso celebrar o facto daqueles a quem lhes foi feito o "velório" antecipadamente poderem agora voltar aos concursos em plena posse das suas habilitações e, sobretudo, do seu bom nome.
(Eduarda Mata Icaza)
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