sábado, 4 de maio de 2019

Maria de Lurdes não faria melhor...

Com a aprovação do acordo em coligação improvável (aqui), fiquei mais preocupado com o dia a seguir do que propriamente com as notícias em torno do tal acordo firmado. Presumo que quem anda nisto há algum tempo sabe que o "spin" (aqui) do PS é muito forte e em matéria de docentes existe um historial bastante longo e eficiente (basta lembrar 2007 e a era Maria de Lurdes/Sócrates). 

Assim, não tardou para ver na comunicação social os "papagaios" de serviço e os históricos socialistas fazerem dos professores autênticas "pinãtas". Do lado inverso, viu-se a oposição a apressar-se a relegar o acordo para a insignificânciaNo fim, a ameaça da demissão do governo (aqui) para fechar um dia centrado nos professores, na sua carreira e nas repercussões do 942 para o país (história da criação da "crise" pode ver-se aqui).

Pena é que os professores e os sindicatos não tenham entendido que fazem parte de um jogo muito maior do que eles. Um jogo de poder. O que está em causa não é a educação nem os professores. O que está em causa é o poder político e, logo que esse seja assegurado, não irão deixar escapar a primeira oportunidade para alterar o ECD, o sistema de avaliação docente, a carreira dos professores e pulverizar as poucas hipóteses de acesso ao topo da mesma. Aliás, Cristas veio a público dizer que a intenção do CDS-PP é (e passo a citar)  "negociar não só o tempo de serviço, mas também matérias como a avaliação dos professores e as carreiras." Tal como o PSD que desde sempre quer negociar essas mesmas matérias e que também não perderá a hipótese de o fazer, caso lhe seja dada oportunidade para tal.



Ninguém dá nada a ninguém e, aparentemente, muitos professores acreditaram que poderia ser dado algo sem perder nada em troca. E a questão que se coloca é: quem vai "pagar" verdadeiramente as "favas"? A quem vai ser endereçada a fatura? Provavelmente serão os professores que ainda têm muitos anos de carreira pela frente e, sobretudo, aqueles que nem sequer têm carreira (aqui e aqui)


E a médio prazo, após toda a tempestade política, ficarão, igualmente, algumas questões: valeu a pena defender integralmente o "942" e não um qualquer meio-termo? Valeu a pena ser novamente vilipendiados pela classe política e comentadores da praça, como se observou nas últimas horas? 

Em dias como estes últimos, recordo-me sempre daquela fatídica frase de Maria de Lurdes Rodrigues: "Perdi os professores mas ganhei os pais e o país". E nisso eles estão cada vez melhores (Costa revelou ser muito mais arguto no timing para criar esta "crise"). 

Falta apenas saber o que fará Marcelo que observa em silêncio a situação, como quem observa um jogo de xadrez. A minha aposta inicial é o veto político. Mas, dado que a demissão se coloca com a aprovação do acordo em lei, a demissão do governo de Costa será feita usando, em última análise, os professores como o perfeito "bode expiátorio" da crise criada. Mesmo que se saiba que foi a direita, uma vez mais, que deu este passo hipócrita para ganhar votos.


(Arquillect)


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