Quem é professor contratado há, pelo menos, uma década sabe
por experiência própria que ser professor contratado é, atualmente, sinónimo de:
- Não ter uma
carreira;
- Não vincular nos
quadros;
- Não ter direito a uma
residência fixa;
- Dificilmente
conseguir constituir uma família;
- Não ver o seu
trabalho reconhecido;
- Muitas vezes, auferir
um vencimento muito abaixo das suas habilitações, como é o caso dos horários das
AECs ou de alguns centros de estudos menos sérios.
Alguns poderão invocar que esta situação não é de hoje e
que já no seu tempo de contratados passaram as “passas do Algarve”. Certamente que
sim. Mas hoje a condição precária do professor contratado está ainda mais agravada.
Com o mito da demografia (num país sem interesse em
implementar políticas activas de natalidade) e com um governo cuja missão é esvaziar
as escolas públicas através de instrumentos como a reorganização curricular e apoios
financeiros descarados aos privados, chega-se rapidamente à conclusão que a ideologia
vigente está claramente a ganhar. Mas também se pode comprovar que ganha sob falsos
pretextos e com batota.
Esta situação deve-se, não aos mitos criados por um
governo que não tem credibilidade alguma, mas sim à engenharia deste MEC que,
não nos esqueçamos, desde a sua tomada de posse duplicou os cortes previstos
pela troika na área da educação.
Tomemos como exemplo as disciplinas artísticas, o fim do
par pedagógico e da própria disciplina de EVT, a redução da carga horária e o
aumento de número de alunos por turma. Com meia dúzia de medidas, este MEC fez
com que milhares de professores, particularmente de EVT, ficassem instantânea e
propositadamente desempregados.
Com este MEC os professores contratados são, cada vez
mais, uma percentagem residual nas escolas e a maioria encontra-se desempregada
em busca de emprego, emigrada ou a pensar em emigrar ou até a trabalhar muito
precariamente.
Ora, a PAC surge num tempo em que os professores
contratados foram empurrados para o desemprego deliberadamente e em que a
vontade de muitos é de fugir, pois reconheçamos que ser-se professor contratado
não traz o “futuro” que o sr. ministro apregoa com a realização desta prova. Talvez
porque não existe presente na docência,
quanto mais “futuro”.
A PAC não passa de mais um instrumento da enorme “guilhotina”
que tem vindo a ser utilizada por este governo. A PAC serve simplesmente para “cortar
cabeças” dos professores contratados que, para este MEC, não passam de meros
candidatos a professores. Para além de desempregados, estes professores são agora
obrigados a comprovar que estão habilitados para a docência. Ora, parece que
para o MEC não são suficientes as habilitações certificadas pelas instituições
de ensino superior e alcançadas com esforço, muitas vezes com investimento suplementar
em mestrados e doutoramentos, e até a experiência granjeada após anos de exercício
de funções docentes.
A verdade é que, passada uma década (em muitos casos, até
mais do que uma), um professor contratado apenas pode vislumbrar à sua frente mais
precarização. No fundo, é como dizer ao nosso mais empenhado aluno: “estudaste e sacrificaste-te, mas não te queremos
mesmo assim”.
A PAC não passa de mais um roubo aos professores. Roubo
das suas habilitações académicas e roubo do seu dinheiro através da criação de
mais um imposto encapotado de pagamento da inscrição para a realização da
prova.
Nenhum professor
contratado que já tenha lecionado, independentemente do seu tempo de serviço, pode
aceitar esta humilhação. E os professores que compactuarem com esta situação não poderão ficar
bem com a sua consciência. Nenhum professor (mesmo os de quadro) pode, neste
momento, colocar-se do outro lado da barricada. A barricada da medição da
competência de um professor por via da segregação que este governo quer
implementar.
O que podemos fazer, então, neste momento crucial?
Podemos dizer não. Podemos todos dizer basta, lutar e, sobretudo, apoiar quem
luta. Devemos todos em consciência tomar uma posição e não deixar a apatia
vingar. Não ficar sempre à espera que os outros façam por nós.
Sejamos honestos: há sempre alguém que declarará que irá realizar
a prova, mas se a grande maioria se mantiver firme outros acabarão também por
aderir. Lembremo-nos das greves aos exames e às reuniões de avaliação, como é
que se fizeram? Fizeram-se devido à força e coragem de muitos professores. Pensem
nisso. Pensem como, por exemplo, o programa das rescisões não está a avançar
como o previsto por falta de adesão. Não poderemos nós almejar pelo menos fazer
o mesmo? Muitos não voltarão ao exercício da docência, mas será justo deixar
que roubem as suas habilitações?
Deixo a questão a quem ainda se interessa por algo mais do
que si próprio. Quero acreditar que ainda há por aí professores que têm
dignidade e que não deixarão que a roubem.
(TRAP)
Parabéns pelo texto!
ResponderEliminarTambém sou da opinião que TODOS os professores contratados deveriam boicotar a realização da prova. O que faria o MEC? NADA! Expulsaria milhares de professores? Os professores contratados são necessários, por muito que eles não queiram.
Força, colegas!
Maria, professora com 34 anos de serviço.
Sim, parabéns pelo excelente texto! :)
ResponderEliminarQuem não vai fazer a "sensata e maravilhosa" prova, sou eu! Garantidamente!
Pois, é verdade mas veremos alguns colegas menos graduados a fazerem a prova para passar à frente dos outros.
ResponderEliminarNa greve aos exames assim se viu.
É de opiniões destas que todos precissamos, que nos ajudam a ter força para mudar esta aberração. Prova Não!
ResponderEliminarAlguém que sabia e sabe bem o que diz e escreve, disse o seguinte:
ResponderEliminar"Quando a lei for iníqua, NÃO se obedeça à lei!! "
Está TUDO DITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Isto é de faco uma aberraçao, um insulto, total desvalorizaçao do professores e das intituiçoes do ensino superior. Uma provocaçao. Haja uniao,vamos dizer nao. Prof. Contatada c 13 anos de serviço
ResponderEliminarEu leciono há 20 anos. É uma vergonha este MEC. Precisam é de ser todos varridos. Quem não sabe respeitar os outros não deve ser respeitado. Que façam eles a prova pois estão fartos de mostrar como são incompetentes...
ResponderEliminarFui contratada oito anos, sou de Viseu e pertenço ao QZP do Baixo Alentejo. Nunca estive a lecionar em Viseu. Podemos e devemos mais uma vez estar unidos: se puserem o pessoal do quadro a vigiar as provas, temos também de dizer Não!
ResponderEliminarE sobre os professores não contratados? Os Efectivos estão muito caladinhos!... Porquê? Porque sabem o que lhes aconteceu também, com a redução dos ordenados, aumento brutal dos descontos e novas taxas de desconto, etc.! Mas não se definam os Contratados como os coitadinhos, as únicas vítimas do cRato, TODOS os decentes e auxiliares foram espezinhados (com algumas excepções, claro, por cunhas!). Não chorem (coitadinho de mim!), Ajam, boicotem as aulas se for preciso, façam mais greves a exames, avaliem os alunos sem fazerem uma ficha sumativa sequer, obriguem os pais a reclamar, sei lá... sejam criativos.
ResponderEliminarEu? Já me reformei!