Anteriormente foi abordada (aqui) a questão relativa ao porquê dos professores contratados não serem capazes de reagir quando existe tanta adversidade contra eles.
Depois procurou-se (aqui) explorar algumas das questões que levam a que os mesmos se sintam discriminados por terem funções idênticas aos professores de carreira, mas não usufruirem de direitos semelhantes dentro da mesma profissão.
Depois procurou-se (aqui) explorar algumas das questões que levam a que os mesmos se sintam discriminados por terem funções idênticas aos professores de carreira, mas não usufruirem de direitos semelhantes dentro da mesma profissão.
Agora, outra das razões que
contribuirá para a “descrença” sentida pelos professores contratados deve-se ao facto de, na minha opinião, sucessivos ministros da educação terem contribuído (e muito) para o retrocesso da imagem de competência da profissão docente e da
qualidade do ensino em Portugal, aos olhos da sociedade civil.
Nomes como David Justino
(PSD), Maria de Lurdes Rodrigues (PS), Nuno Crato (PSD/CDS=PAF) e Tiago Brandão
Rodrigues (PS) pecaram e pecam pelo facto de não entenderem quais são as reais condições
da profissão no terreno e os desafios e sacrifícios necessários, apenas para se conseguir leccionar.
Pior, ao invés de criarem
condições para um ambiente de renovação geracional e de transmissão de experiência entre professores, os ministros da pasta da educação demonstraram uma particular apetência para bloquear a renovação dos docentes nas escolas, ao mesmo
tempo que precarizaram a imagem e a própria profissão docente. Talvez o maior exemplo desta herança seja a
falta de candidatos a professor sentida nos tempos que correm.
Recordo que David Justino, em 2004, devido a
falhas técnicas, “bloqueou” o acesso dos professores contratados aos concursos de
professores, criando ao mesmo tempo um dos maiores imbróglios alguma vez visto
em concursos nacionais de professores (talvez só Crato tenha novamente direito
a esse “prémio”, anos mais tarde). Os problemas criados nesse concurso tiveram
consequências incalculáveis (atrasos na entrada na profissão) para os
professores contratados, tanto nesse ano como em anos subsequentes (nunca tendo
sido “ressarcidos” pela fatídica ocorrência).
Já Maria de Lurdes Rodrigues foi uma das ministras que, aproveitando a contigência de uma maioria absoluta do PS, conseguiu implementar mudanças
cirúrgicas no ECD e proceder a alterações no regime de avaliação de desempenho para os professores, regime esse que aplicou um sistema de asteriscos (*) que
apenas serviram para minar para sempre a seriedade e a harmonia nas
listas de ordenação/colocação de professores. Essas reformas criaram um ambiente fértil
para a instauração de desconfiança na sociedade civil sobre a competência dos
professores e trouxeram um clima de "guerra" e abuso de poder para
dentro das escolas. Ainda implementou um sistema de contratação de escola
(processo que visou dar ao diretor o “poder” de seleccionar os professores contratados “à la carte”, via
entrevistas e reconduções). Foi a partir destas e de outras medidas que se criou uma atmosfera inviável nas
relações entre professores e uma desconfiança absoluta da sociedade sobre a
competência dos mesmos.
Nuno Crato. Em suma: um dos ministros que mais fez para reduzir os rácios
de professores contratados nas escolas. Dois
exemplos logo à cabeça: a implementação da PACC e da BCE. Se a PACC serviu para
humilhar e obstaculizar o acesso dos professores contratados à profissão, já a BCE foi uma
clara tentativa de ir ao encontro dos desejos de alguns directores que, desde MLR, pretendem ter para si o
poder de seleccionarem os docentes “à la carte” (desejo, esse, que perdura até hoje). Provavelmente esse desejo será
um dia saciado através da descentralização de competências para as autarquias. Ambos os instrumentos mancharam novamente a forma como se percecionava o sistema de colocações de professores, ao mesmo tempo que se demonizava a competência dos mesmos, apontando o custo orçamental que estes representavam para o país.
Medidas como a abertura da oferta
pública para os privados, a redução da contratação de professores (através de, por exemplo, mexidas na organização curricular), levando ao aumento exponencial de desemprego
docente e um primeiro-ministro que os mandou abandonar o país, são exemplo dessa
mesma demonização.
Como cereja no topo do bolo,
os professores contratados ainda tiveram que lidar com muitos dos seus próprios
pares e directores de agrupamentos que vestiram a camisola de “executores”, aceitando aplicar a vergonhosa PACC.
Este será provavelmente um dos períodos mais negros para quem é ou deixou de ser docente e que deixará marcas para sempre dentro
e fora das escolas.
Tiago Brandão Rodrigues e sua equipa ministerial até começou de forma positiva o seu
mandato, anulando algumas das nefastas medidas impostas por Crato, tal como a
BCE ou a PACC (apesar de - não esqueçamos - continuar no ECD para um dia voltar a “assombrar”
novamente os professores). Importante, também, foi o fim da subsidiação do estado
aos privados. Mas esse olhar de anulação de medidas não veio acompanhado de uma
visão reformadora no combate à precariedade dos professores contratados e, sobretudo, de um sistema mais justo de concursos e de entrada nos quadros. Essa
inacção acaba, assim, por ter custos altos para os professores que continuam contratados, pois não vêem qualquer luz ao fundo do túnel, independentemente dos muitos anos de serviço
que possam ter prestado. Sim, porque é importante que não esqueçamos que existem muitos professores
contratados com a mesma idade ou até mais velhos do que muitos professores de
carreira.
(Neomechanica)
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